Para os estoicos paixão é entendida como sentimento ou emoção levados a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão; entre esses sentimentos, a ira, por exemplo.
Ou seja, o termo “paixão”, ao contrário do uso contemporâneo, é sempre negativo, é um vício, não virtude.
Marco Aurélio usa o termo inúmeras vezes em suas meditações, como em:
“a mente livre de paixões é uma cidadela[1] [fortaleza], pois o ser humano não tem nada mais seguro para o qual possa se refugiar e para o qual o futuro seja inexpugnável. Aquele, pois, que não viu isso é um homem ignorante; mas aquele que o viu e não rumou a esse refúgio é um infeliz.” (VIII,48)
“Pois no mesmo grau em que a mente de um homem está mais próxima da liberdade de toda a paixão, no mesmo grau também está mais próxima da força: e como o sentido da dor é uma característica da fraqueza, assim é também a raiva.“( XI, 18)
Sêneca também condena a paixão em seus textos:
“A estupidez[2] é vil, abjeta, má, servil e exposta a muitas das paixões mais cruéis. Essas paixões, que são severas capatazes, às vezes governam em turnos e às vezes juntas, porém podem ser banidas de você pela sabedoria, que é a única liberdade real. Há apenas um caminho que leva para lá e é um caminho reto: você não se extraviará. Prossiga com passo firme e se você tiver todas as coisas sob seu controle, coloque-se sob o controle da razão, se a razão se tornar sua governante, você se tornará governador de muitos. ” (XXXVII, 4)
Notas:
[1] Essa passagem deu título ao excelente livro de Pierre Hadot “La citadelle intérieure. Introduction aux Pensées de Marc Aurèle”
[2] Na linguagem do estoicismo, a estupidez, “stultitia”, é a antítese da “sapientia”, sabedoria. Lembre que por ‘estupidez’ não deve entender-se meramente a ausência de conhecimentos, mas antes o estado de quem vive à margem dos princípios morais estabelecidos pela filosofia.