Carta 56: Sobre silêncio e estudo

Nesta carta Sêneca mostra seu lado irônico e poder de escrita em prosa.

Assim como em muitas das cartas anteriores, Sêneca recomenda o auto desenvolvimento e o treino mental, para que consigamos manter atitude serena frente as inconveniências diárias.  Conta de seu caso particular e do dia-a-dia da vida em Roma.

O tumulto e distúrbio externo não deve afetar um sábio:

“forço minha mente a concentrar-se, e impeço-a de vaguear para as coisas externas; tudo ao ar livre pode ser uma algazarra, desde que não haja perturbação dentro … Qual é o benefício de um bairro tranquilo, se nossas emoções estão em um tumulto?” (LVI,5)

Para Sêneca somente uma mente racional e estável pode ser tranquila:

“pois nenhum descanso real pode ser encontrado quando a razão não é tranquilizada. A noite traz nossos problemas à luz, ao invés de bani-los; muda apenas a forma de nossas preocupações. … A verdadeira tranquilidade é o estado atingido por uma mente não pervertida quando está relaxada.” (LVI,6)

Ao fim da carta descobrimos que essa morada inconveniente foi apenas um exercício, e que é muito mais útil afastar-se do tumulto.

“E então?” Você diz, “não é às vezes mais simples apenas evitar o tumulto?” Eu admito isso. Por conseguinte, eu vou mudar de meus aposentos atuais. Eu apenas queria me testar e me dar prática. Por que eu precisaria de mais atormentação, quando Ulisses encontrou uma cura tão simples para seus companheiros, mesmo contra as canções das Sereias? (LVI,16)

Imagem Cato lendo Fedão antes do suicídio por Jean-Baptiste Roman.

 


LVI. Sobre silêncio e estudo

Saudações de Sêneca a Lucílio.

  1. Que eu seja amaldiçoado se achar o silencio ser coisa exigida a um homem que se isola para estudar! Imagine que variedade de ruídos reverbera sobre meus ouvidos! Tenho meu aposento diretamente sobre um estabelecimento de banhos. Então imagine a variedade de sons, que são fortes o suficiente para me fazer odiar meus próprios poderes de audição! Quando, por exemplo, um vigoroso cavalheiro se exercita com pesos; quando está treinando duro, ou então finge estar treinando duro, eu posso ouvi-lo grunhir; e sempre que libera sua respiração aprisionada, eu posso ouvi-lo ofegante em sons sibilantes e agudos. Ou talvez eu note algum sujeito preguiçoso, satisfeito com uma massagem barata, e fique a ouvir a batida da mão em seu ombro, variando em som de acordo com a mão, se é colocada espalmada ou em oco. Então, talvez, um profissional venha junto, gritando alto a contagem; esse é o toque final.
  2. Acrescente a isso a prisão de um ladrão ocasional ou de um carteirista, a balbúrdia de um homem que sempre gosta de ouvir sua própria voz no banheiro, ou o entusiasta que mergulha no tanque de natação com ruído desmedido e salpicos. Além de todos aqueles cujas vozes, ao menos são boas, imagine o depilador com sua voz penetrante e estridente, – para fins de propaganda, – continuamente gritando e nunca segurando a língua, exceto quando ele está depilando axilas e fazendo sua vítima gritar. Então o vendedor de bolos com seus variados gritos, o açougueiro, o confeiteiro, e todos os vendedores de comida gazeteando suas mercadorias, cada um com sua própria entonação distintiva.
  3. Então você diz: “Que nervos de ferro ou ouvidos amortecidos, você deve ter, se sua mente pode suportar tantos ruídos, tão diversos e tão discordantes, quando nosso amigo Crisipo é trazido à morte pelos contínuos bons dias que o saúdam!” Mas lhe asseguro que esta algazarra não significa mais para mim do que o som das ondas ou da queda de água; embora você possa me lembrar que uma certa tribo uma vez moveu sua cidade apenas porque não podiam suportar o ruído de uma catarata do Nilo.
  4. As palavras parecem me distrair mais do que ruídos; pois as palavras exigem atenção, mas os ruídos apenas enchem as orelhas e batem nelas. Entre os sons que me rodeiam sem me distrair, incluem-se carruagens de passagem, um mecânico no mesmo quarteirão, um afilador próximo ou um sujeito que está se manifestando com pequenos canos e flautas no chafariz, gritando ao invés de cantar.
  5. Além disso, um ruído intermitente me perturba mais do que um estável. Mas por esta altura tenho endurecido meus nervos contra todo esse tipo de coisa, de modo que eu posso suportar até mesmo um contramestre que marca o passo em tons agudos para sua tripulação. Pois eu forço minha mente a concentrar-se, e impeço-a de vaguear para as coisas externas; tudo ao ar livre pode ser uma algazarra, desde que não haja perturbação dentro, desde que o medo não esteja disputando com o desejo no meu peito, contanto que a mesquinhez e a luxúria não estejam em desacordo, uma acossando a outra. Qual é o benefício de um bairro tranquilo, se nossas emoções estão em um tumulto?
  6. Foi-se a noite, e todo o mundo foi embalado para descansar. [1]
    Isso não é verdade; pois nenhum descanso real pode ser encontrado quando a razão não é tranquilizada. A noite traz nossos problemas à luz, ao invés de bani-los; muda apenas a forma de nossas preocupações. Pois, mesmo quando buscamos o sono, nossos momentos sem sono são tão assustadores quanto o dia. A verdadeira tranquilidade é o estado atingido por uma mente não pervertida quando está relaxada.
  7. Pense no homem infeliz que corteja o sono entregando sua mansão espaçosa ao silêncio, que, para que seu ouvido não seja perturbado por nenhum som, ordena que todo o séquito de seus escravos fique quieto e que quem quer que se aproxime dele caminhe na ponta dos pés; Ele revira de um lado para o outro e procura um sono agitado em meio a suas inquietações!
  8. Ele se queixa de ter ouvido sons, quando não os ouviu em absoluto. O motivo, você pergunta? Sua alma está em alvoroço; ela deve ser acalmada, e sua murmuração rebelde controlada. Você não precisa supor que a alma esteja em paz quando o corpo está imóvel. Às vezes, imobilidade significa desconforto. Devemos, portanto, despertar-nos para a ação e nos ocupar com interesses que sejam bons, tão frequentemente como quando ficamos sob julgo de uma preguiça incontrolável.
  9. Grandes generais, quando veem que seus homens são amotinados, os colocam em algum tipo de trabalho ou os mantêm ocupados com pequenas incursões. O homem ocupado não tem tempo para libertinagem, e é óbvio que os males do ócio podem ser sacudidos pelo trabalho árduo. Embora as pessoas muitas vezes tenham pensado que eu busquei reclusão porque estava repugnado com a política e lamentava a minha posição infeliz e ingrata, no entanto, no retiro para o qual a apreensão e cansaço me levou, minha ambição às vezes se desenvolve novamente. Pois não é porque a minha ambição foi erradicada, que se abateu, mas porque estava cansada ou talvez até desanimada pelo fracasso de seus planos.
  10. E assim com o luxo, também, que às vezes parece ter partido, e então quando fazemos uma promessa de frugalidade, ele começa a nos importunar e, em meio a nossas economias, procura os prazeres que simplesmente deixamos, mas não condenamos. Na verdade, quanto mais furtivamente ele vem, maior é sua força. Pois todos os vícios manifestos são menos graves; uma doença também está mais próxima de ser curada quando ela brota da ocultação e manifesta seu poder. Assim, como a ganância, a ambição e os outros males da mente, você pode ter certeza de que eles fazem mais mal quando estão escondidos atrás de uma máscara de integridade.
  11. Os homens pensam que estamos na aposentadoria, mas ainda não estamos. Pois se nos retiramos sinceramente, e tivermos soado o sinal de retirada, e desprezamos as atrações externas, então, como observei acima, nenhuma coisa externa nos distrairá; nenhuma música de homens ou de pássaros pode interromper bons pensamentos, quando eles se tornam firmes e seguros.
  12. A mente que se abala com palavras ou sons ao acaso é instável e ainda não se retirou para si mesma; contém dentro de si um elemento de ansiedade e medo arraigado, e isso faz a pessoa uma presa da necessidade, como diz nosso Virgílio:
  13. Eu, que de outrora nenhum dardo poderia fazer fugir,
    Nem gregos, com linhas lotadas de infantaria.
    Agora tremo a cada som, e temo o ar,
    Tanto pelo o meu filho quanto pela carga que eu carrego. [2]
  14. Este homem em seu primeiro estado é sábio; ele não recua nem à lança brandida, nem à armadura de choque do inimigo, nem ao estrondo da cidade atingida. Esse homem, em seu segundo estado, não tem conhecimento, temendo por suas próprias preocupações; qualquer grito é tomado como um grito de batalha e o derruba; a menor perturbação o faz sentir-se ofegante de medo. É a carga que o faz sentir medo[3].
  15. Escolha qualquer um que quiser de entre os seus favoritos, arrastando suas muitas responsabilidades, carregando seus muitos fardos, e você vai ver um retrato do herói de Virgílio, “temendo tanto por seu filho quanto pela carga que carrega”. Você pode ter certeza de que está em paz consigo mesmo, quando nenhum ruído o assustar, quando nenhuma palavra o sacodir de si mesmo, seja de lisonja ou de ameaça, ou apenas um som vazio zumbindo sobre você com um barulho sem sentido.
  16. “E então?” Você diz, “não é às vezes mais simples apenas evitar o tumulto?” Eu admito isso. Por conseguinte, eu vou mudar de meus aposentos atuais. Eu apenas queria me testar e me dar prática. Por que eu precisaria de mais atormentação, quando Ulisses encontrou uma cura tão simples para seus companheiros, mesmo contra as canções das Sereias?[4]

Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.

[1] Trecho de Argonáutica de Públio Varrão.

[2] Trecho de Eneida de Virgílio.

 Obvertunt pelago proras

[3] Eneias carrega Anquises; O homem rico carrega seu ônus de riqueza.

et me, quem dudum non ulla iniecta movebant
tela neque adverso glomerati e agmine Grai,
nunc omnes terrent aurae, sonus excitat omnis
suspensum et pariter comitique onerique timentem.

[4] Não apenas tapando as orelhas com cera, mas também lhes ordenando a remar além das sereias o mais rápido possível. Odisseia, XII.

 

Carta 48: Sobre trocadilhos como Indigno ao Filósofo

Na carta 48 Sêneca pela primeira vez critica contundentemente o epicurismo, filosofia antagonista do estoicismo. O ponte central da crítica é a relação com amigos:  Sêneca diz que para o estoico, os termos “amigo” e “homem” são coextensivos, pois ele é o amigo de todos, e seu motivo de amizade é ser útil; Já o epicurista restringe a definição de “amigo” e considera-o meramente como um instrumento para sua própria felicidade:

ninguém pode viver feliz se só pensa em si próprio e transforma tudo em questão de sua própria utilidade; você deve viver para o seu vizinho, se você quiser viver para si mesmo.“(XLVIII, 2)

Por esse lado, “homem” é o equivalente de “amigo”; no outro lado, “amigo” não é o equivalente de “homem”. Um quer um amigo para sua própria vantagem; o outro quer fazer-se uma vantagem para seu amigo.
(XLVIII, 4)

Na sequencia explica qual a função da filosofia, e ataca o exercício de sofismo praticado pelos epicuristas da época:

Você realmente saberia o que a filosofia oferece à humanidade? A filosofia oferece conselhos. “(XLVIII, 7)
Devo julgar seus jogos de lógica como sendo de algum proveito para aliviar os fardos dos homens, se você puder me mostrar primeiro que parte desses fardos aliviarão. O que entre esses jogos afasta a luxúria? Ou a controla? Gostaria que eu pudesse dizer que eles são meramente ineficazes! Eles são positivamente prejudiciais. “(XLVIII, 9)

Sêneca conclui a carta exortando Lucílio a focar no principal e abandonar os trocadilhos e coisas supérfluas:

“Sinceridade, e simplicidade mostram verdadeira bondade. Mesmo se houvesse muitos anos para você, você teria que gastá-los frugalmente para ter o suficiente para as coisas necessárias; mas como é, quando seu tempo é tão escasso, que estupidez é aprender coisas supérfluas!” (XLVIII, 12)

 imagem: datalhe de Fuga da Decepção por Francesco Queirolo (1704–1762) Cappella Sansevero em Nápoles

 


XLVIII. Sobre trocadilhos como Indigno ao Filósofo

Saudações de Sêneca a Lucílio.

  1. Em resposta à carta que me escreveu durante a viagem, – uma carta tão longa quanto a viagem em si, – vou responder mais tarde. Eu devo me retirar, e considerar que tipo de conselho que eu posso lhe dar. Porque você mesmo, que me consulta, também refletiu por um longo tempo; quanto mais, então, devo eu mesmo refletir, já que mais deliberação é necessária para responder do que para propor um problema! E isso é particularmente verdadeiro quando uma coisa é vantajosa para você e outra para mim. Estou falando de novo sob a máscara de um epicurista[1]?
  2. Mas o fato é que a mesma coisa é vantajosa para mim e é vantajosa para você; porque não sou seu amigo, a menos que o que seja importante para você também seja minha preocupação. A amizade produz entre nós uma parceria em todos os nossos interesses. Não há tal coisa como boa ou má fortuna para um de nós; nós vivemos em comum. E ninguém pode viver feliz se só pensa em si próprio e transforma tudo em questão de sua própria utilidade; você deve viver para o seu vizinho, se você quiser viver para si mesmo.
  3. Esta comunhão, mantida com escrupuloso cuidado, que nos faz misturarmo-nos como homens com nossos semelhantes e sustenta que a raça humana tem certos direitos em comum, é também de grande ajuda em nutrir a comunhão mais íntima que se baseia na amizade, sobre a qual eu comecei a falar acima. Pois quem tem muito em comum com um semelhante terá todas as coisas em comum com um amigo.
  4. E sobre este ponto, meu excelente Lucílio, gostaria que esses sutis dialéticos me aconselhem como devo ajudar um amigo, ou como um homem, ao invés de me dizer de quantas maneiras a palavra “amigo” é usada, e quantos significados a palavra “homem” possui. Sabedoria e Estupidez tomam lados opostos[2]. A qual devo me juntar? Qual partido você gostaria que eu seguisse? Por esse lado, “homem” é o equivalente de “amigo”; no outro lado, “amigo” não é o equivalente de “homem”. Um quer um amigo para sua própria vantagem; o outro quer fazer-se uma vantagem para seu amigo. O que você tem a me oferecer não é nada além de distorção de palavras e divisão de sílabas.
  5. É claro que, a menos que eu possa imaginar algumas premissas muito difíceis e por falsas deduções aderir a elas uma falácia que nasce da verdade, não serei capaz de distinguir entre o que é desejável e o que deve ser evitado! Estou envergonhado! Homens velhos como nós somos, lidando com um problema tão sério, e fazemos dele um jogo!
  6. “Rato é uma palavra, agora um rato come queijo, portanto, uma palavra come queijo.” Suponha agora que não consiga resolver este problema; Veja que perigo pende sobre minha cabeça como resultado de tal ignorância! Que situação crítica vou estar! Sem dúvida, devo ter cuidado, ou algum dia eu vou pegar palavras em uma ratoeira, ou, se eu ficar descuidado, um livro pode devorar meu queijo! A menos que, talvez, o seguinte silogismo seja ainda mais perspicaz: “Rato é uma palavra, agora uma palavra não come queijo, por isso um rato não come queijo”[3].
  7. Que disparate infantil! Será que nós devemos debater sobre este tipo de problema? Deixamos nossas barbas crescerem por muito tempo por essa razão? É este o assunto que ensinamos com rostos amargos e pálidos? Você realmente saberia o que a filosofia oferece à humanidade? A filosofia oferece conselhos. A morte chama um homem, e a pobreza desgasta outro; um terceiro está preocupado com a riqueza do seu vizinho ou com a sua. Fulano tem medo da má fortuna; outro deseja ficar longe de sua própria fortuna. Alguns são maltratados pelos homens, outros pelos deuses.
  8. Por que, então, você molda para mim jogos como esses? Não é ocasião de brincadeira; você é considerado como conselheiro para a humanidade infeliz. Você prometeu ajudar aqueles em perigo no mar, aqueles em cativeiro, doentes e necessitados, e aqueles cujas cabeças estão sob o machado levantado. Até que ponto onde você está se perdendo? O que você está fazendo? Este amigo, em cuja companhia você está brincando, está com medo. Ajude-o, e retire o laço de seu pescoço. Homens estão estendendo as mãos implorando para você em todos os lados; Vidas arruinadas e em perigo de ruína estão implorando por alguma ajuda; as esperanças dos homens, os recursos dos homens, dependem de você. Eles pedem que você os livre de toda a sua inquietação, que você revele a eles, dispersos e vagando como eles estão, a clara luz da verdade.
  9. Diga-lhes o que a natureza fez necessário, e o que supérfluo; diga-lhes como são simples as leis que ela estabeleceu, quão agradável e desimpedida a vida é para aqueles que seguem essas leis, mas quão amarga e perplexa é para aqueles que têm a sua confiança na opinião e não na natureza. Devo julgar seus jogos de lógica como sendo de algum proveito para aliviar os fardos dos homens, se você puder me mostrar primeiro que parte desses fardos aliviarão. O que entre esses jogos afasta a luxúria? Ou a controla? Gostaria que eu pudesse dizer que eles são meramente ineficazes! Eles são positivamente prejudiciais. Posso deixar bem claro para você quando quiser, que um espírito nobre quando envolvido em tais sutilezas é prejudicado e enfraquecido.
  10. Tenho vergonha de dizer quais armas fornecem aos homens que estão destinados a guerrear com a fortuna, e quão mal os equipam! É este o caminho para o maior bem? A filosofia deve prosseguir por tal artifício e trocadilho[4] que seria uma desonra e um opróbrio mesmo para os deturpadores da lei? Pois o que mais vocês estão fazendo, quando deliberadamente aprisionam a pessoa a quem estão fazendo perguntas, do que fazer parecer que o homem perdeu sua causa por um erro técnico? Mas assim como o juiz pode restabelecer aqueles que perderam um processo dessa maneira, a filosofia pode restabelecer estas vítimas de trocadilhos a sua condição anterior.
  11. Por que vocês, homens, abandonam suas promessas extremas e, depois de terem me assegurado em linguagem erudita que vocês não permitirão que o brilho do ouro ofusque minha visão não mais que o brilho da espada e que eu, com poderosa perseverança despreze tanto aquilo que todos os homens anseiam quanto aquilo que todos os homens temem, por que vocês descenderam ao ABC dos acadêmicos pedantes? Qual é sua resposta? É este o caminho para o céu? Pois é exatamente isso que a filosofia promete a mim, que eu serei feito igual a Deus. Para isso fui convocado, para este propósito eu vim. Filosofia, mantenha sua promessa!
  12. Portanto, meu caro Lucílio, retire-se o mais possível dessas exceções e objeções desses chamados filósofos. Sinceridade, e simplicidade mostram verdadeira bondade. Mesmo se houvesse muitos anos para você, você teria que gastá-los frugalmente para ter o suficiente para as coisas necessárias; mas como é, quando seu tempo é tão escasso, que estupidez é aprender coisas supérfluas!

Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.

[1] Os epicuristas, que reduziam todos os bens a “utilidades”, não podiam considerar a vantagem de um amigo como idêntica à própria vantagem. E, no entanto, colocavam grande peso na amizade como uma das principais fontes de prazer. Para uma tentativa de conciliar essas duas posições, veja Cicero, De Finibus. Sêneca usou uma frase que implica uma diferença entre os interesses de um amigo e o próprio. Isso o leva a reafirmar a visão estoica da amizade, que adotou como lema.

[2] Os lados são dados em ordem inversa nas duas cláusulas: para o estoico, os termos “amigo” e “homem” são coextensivos, pois ele é o amigo de todos, e seu motivo de amizade é ser útil; Já o Epicurista, no entanto, restringe a definição de “amigo” e considera-o meramente como um instrumento para sua própria felicidade.

[3] Neste parágrafo, Sêneca expõe a loucura de tentar provar uma verdade por meio de truques lógicos e oferece uma caricatura daqueles que estavam atuais entre os filósofos a quem ele ridiculariza.

[4] Sêneca usa a termo “sive nive”, literalmente, “ou se ou se não,” palavras constantemente empregadas pelos lógicos e nos instrumentos legais.

Carta 38: Sobre o Ensinamento Tranquilo

Esta carta é muito curta, mas quando o leitor reflete sobre ela no contexto do restante correspondência em desenvolvimento, tem o potencial de se transformar em um conjunto substancial de idéias. O uso de texto como meio de ensino contrasta Sêneca com dois de seus contemporâneos. Sabe-se que Epiteto e Musônio não escreveram livros, mas proferiram discursos que foram registrados por outros.

Afirma que oratória é útil para atrair o estudante, mas não para instruí-lo:

“quando o objetivo é fazer com que um homem aprenda e não apenas para fazê-lo desejar aprender, devemos recorrer às palavras em baixo tom de conversa. Elas entram mais facilmente, e ficam na memória; pois não precisamos de muitas palavras, mas palavras mais eficazes.” (XXXVIII,1)

Na segunda metade, Sêneca responde indiretamente à crítica de Platão da palavra escrita. Ele faz uso de sua imagem do professor como um semeador. Ele primeiro compara as palavras às sementes, depois à razão e finalmente aos preceitos. Ele enfatiza a natureza orgânica de tudo isso. Sementes devem encontrar um solo adequado na mente do ouvinte, têm seu próprio poder (vires suas) e crescem de algo pequeno para algo grande. De fato, em uma boa mente, elas retornarão mais do que foi investido.

Sêneca enfatiza repetidamente que não são necessárias muitas palavras, apenas efetivas, e ele reforça esse argumento por meio da natureza curta da própria carta.

(imagem: Cícero, famoso por sua oratória, denuncia Catilina, por Cesare Maccari)


XXVIII. Sobre o Ensinamento Tranquilo

Saudações de Sêneca a Lucílio.

  1. Você está certo quando você pede que aumentemos nosso tráfego mútuo de cartas. Mas o maior benefício é derivado da conversa, porque ela se desliza gradualmente até a alma. Palestras preparadas de antemão e lançadas na presença de uma multidão têm nelas mais barulho, mas menos intimidade. Filosofia é um bom conselho; e ninguém pode dar conselhos gritando com toda sua força. É claro que às vezes também devemos usar esses discursos bombásticos, se assim posso chamá-los, quando um membro duvidoso precisa ser estimulado a esporas; mas quando o objetivo é fazer com que um homem aprenda e não apenas para fazê-lo desejar aprender, devemos recorrer às palavras em baixo tom de conversa. Elas entram mais facilmente, e ficam na memória; pois não precisamos de muitas palavras, mas palavras mais eficazes.
  2. As palavras devem ser espalhadas como sementes; não importa quão pequena a semente possa ser, se uma vez encontrou terreno favorável, desdobra sua força e de uma coisa insignificante se espalha para seu grandioso crescimento. A razão cresce da mesma maneira; não é grande à primeira vista, mas aumenta à medida que faz seu trabalho. Poucas palavras são ditas; mas se a mente realmente as apanha, elas entram em vigor e brotam. Sim, ensinamentos e sementes têm a mesma qualidade; eles produzem muito, e ainda assim são pequenas coisas. Apenas, como eu disse, deixe uma mente favorável recebê-las e assimilá-las. Então, por si só, a mente também produzirá abundantemente por sua vez, retribuindo com mais do que recebeu.

Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.

Carta 37: Sobre a lealdade à virtude

Na carta 37 Sêneca procura persuadir o leitor a perseverar no estudo da filosofia com um efeito emocional, comparando o discípulo a um soldado que se alista voluntariamente.
Lucílio deve se enxergar como um soldado lutando contra as paixões pela liberdade.  Como filósofo, Lucílio se alistou não apenas para enfrentar a morte, mas para fazê-lo de boa vontade e com prazer, sem esperança de remissão:

O gladiador pode abaixar sua arma e testar a piedade do povo; mas você não abaixará a sua arma nem suplicará pela vida. Você deve morrer ereto e inflexível. Além disso, que lucro é ganhar alguns dias ou alguns anos? Não há absolvição para nós desde o momento em que nascemos.“(XXXVII, 2)

Sêneca conclui a carta afirmando que a sabedoria e razão é o caminho para liberdade e felicidade:

coloque-se sob o controle da razão; se a razão se tornar sua governante, você se tornará governador de muitos.” (XXXVII, 4)
É vergonhoso, em vez de seguir em frente, ser levado e, de repente, em meio ao redemoinho dos acontecimentos, perguntar de forma aturdida: ‘Como é que eu entrei nessa situação?'”.(XXXVII, 5)

(imagem: Pollice Verso (polegar para baixo) – por Jean-Léon Gérôme )


XXXVII. Sobre a lealdade à virtude

Saudações de Sêneca a Lucílio.

1.  Você prometeu ser um homem bom; você se alistou sob juramento; esta é a corrente mais forte que irá mantê-lo no bom discernimento. Qualquer homem estará zombando de você, se declarar que este é um tipo de alistamento afeminado e fácil. Eu não vou lhe enganar. A palavra deste pacto mais honroso é a mesma que as palavras daquele mais vergonhoso, a saber: “Por tortura, prisão ou morte pela espada[1]“.

2. Dos homens que vendem suas forças na arena, que comem e bebem o que devem pagar com seu sangue, é certo que suportarão tais provações mesmo que relutantemente; de você, que as suporte voluntariamente e com empenho. O gladiador pode abaixar sua arma e testar a piedade do povo; mas você não abaixará a sua arma nem suplicará pela vida. Você deve morrer ereto e inflexível. Além disso, que lucro é ganhar alguns dias ou alguns anos? Não há absolvição para nós desde o momento em que nascemos.

3. “Então, como posso me libertar?” Você pergunta. Você não pode fugir das necessidades, mas pode superá-las:

pela força um caminho é aberto.Fit via vi. [2]
    E esta maneira lhe será dada pela filosofia. Recorra, portanto, da filosofia, se quiser estar seguro, tranquilo, feliz, se quiser ser – e isso é mais importante, – livre. Não há outra maneira de atingir esse fim.

4. A estupidez[3] é baixa, abjeta, má, servil e exposta a muitas das paixões mais cruéis. Essas paixões, que são capatazes severos, às vezes governam em turnos, e às vezes juntos, podem ser banidos de você pela sabedoria, que é a única liberdade real. Há apenas um caminho que leva para lá, e é um caminho reto; você não se extraviará. Prossiga com passo firme, e se você tiver todas as coisas sob seu controle, coloque-se sob o controle da razão; se a razão se tornar sua governante, você se tornará governador de muitos. Você aprenderá com ela o que deve empreender e como deve ser feito; você não vai errar nas coisas.

5. Você não pode me mostrar nenhum homem que saiba como ele começou a desejar o que ele deseja. Ele não foi levado a esse passo por premeditação; ele foi dirigido por impulso. A fortuna nos ataca quantas vezes atacarmos a Fortuna. É vergonhoso, em vez de seguir em frente, ser levado e, de repente, em meio ao redemoinho dos acontecimentos, perguntar de forma aturdida: “Como é que eu entrei nessa situação?”.

Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.

[1] Sêneca se refere ao famoso juramento que o gladiador tomava quando em contrato com o mestre de luta; Uri, vinciri, verberari ferroque necari patior; O juramento é abreviado no texto, provavelmente pelo próprio Sêneca, que o parafraseia na carta LXXI.

[2] Trecho de Eneida de Virgílio.

[3] Na linguagem do estoicismo, a estupidez, “stultitia“, é a antítese da “sapientia”, sabedoria.

Carta 36: Sobre o Valor da Aposentadoria

Na carta 36 Sêneca discute as vantagens de ser afastar dos negócios e da vida pública, para o que chama de “Otium” um termo abstrato em latim,  que tem uma variedade de significados, incluindo o tempo de lazer em que uma pessoa pode gastar para comer, brincar, descansar, contemplação e esforços acadêmicos.

Estabelece uma antítese no início da carta entre o sucesso popular (felicitas), que seria sucesso na carreira pública, e uma vida de aposentadoria (otium) sendo a segunda a vida ideal . O sucesso popular é instável, já que está sob controle da Fortuna. Além disso, seu efeito sobre aqueles que o recebem não é saudável:

“A prosperidade é uma coisa turbulenta; ela atormenta. Ela agita o cérebro em mais de um sentido, incitando os homens a vários objetivos, alguns para o poder, e outros para a vida luxuosa. Alguns ela enche de orgulho; outros afrouxa e debilita totalmente.” (XXXVI.1)

A escolha entre a vida pública e a aposentadoria(retiro) foi um tema importante para os filósofos antigos, sobre o qual Sêneca escreveu com a experiência de ambos os estilos de vida. É um tópico que ele apresenta em vários de seus diálogos e cartas, inclusive na Carta VIII, já comentada no site.

A aposentadoria está intimamente ligada ao verdadeiro sucesso de Sêneca. Teoricamente, o estado interno de “vida feliz”  é possível, independentemente das circunstâncias externas. Na prática, no entanto, o retiro é uma grande ajuda para o progresso filosófico devido a distância da influência prejudicial da multidão.

Para Sêneca, A Vida Feliz consiste em duas qualidades: Tranquilidade da Mente e Liberdade do Medo (securitas et perpetua tranquillitas).A aposentadoria é uma grande ajuda para alcançar a tranquilidade da mente. A liberdade do medo é alcançada com a aceitação da morte, tema da segunda metade da carta.

A partir do parágrafo 8 Sêneca oferece uma perspectiva científica sobre a morte:

“A o que, então, esse amigo seu dedicará sua atenção? Eu digo, que aprenda o que é útil contra todas as armas, contra todo tipo de inimigo, – o desprezo pela morte;” (XXXVI.8)

Nos parágrafos 10-11, Sêneca convida o leitor a ver nos ciclos cósmicos da natureza uma segurança para encarar a morte calmamente.

“Uma vez que você está destinado a retornar, você deve partir com uma mente tranquila. Perceba como o percurso do universo repete seu curso; você verá que nenhuma estrela em nosso firmamento é extinguida, mas que todas elas surgem e se erguem em alternância. O verão foi embora, mas outro ano o trará de novo;” (XXXVI.11)

No  livro “Das Questões Naturais“, Sêneca coloca o estudo da natureza em um plano superior ao de outros ramos da filosofia: Estudar ciências seria o estudo de Deus já os outros temas seria o estudo dos humanos.

Conclui a carta com uma analogia forte, mostrando que não é racional temer a morte:

“os jovens e os que ficaram loucos, não têm medo da morte, e é muito vergonhoso se a razão não pode nos dar essa paz de espírito que é trazida pela loucura.”(XXXVI.12)

(imagem:  Alegoria da Fortuna, por Salvator Rosa)

 


XXXVI. Sobre o Valor da Aposentadoria

Saudações de Sêneca a Lucílio.

  1. Incentive seu amigo a desprezar corajosamente aqueles que o censuram porque ele procurou a sombra da aposentadoria e abdicou de sua carreira de honras, e, embora pudesse ter alcançado mais, preferiu a tranquilidade. Deixe-o provar diariamente a estes detratores como sabiamente ele defendeu seus próprios interesses. Aqueles que são invejados pelos homens passam ao largo; alguns serão empurrados para fora de sua posição social, e outros cairão. A prosperidade é uma coisa turbulenta; ela atormenta. Ela agita o cérebro em mais de um sentido, incitando os homens a vários objetivos, alguns para o poder, e outros para a vida luxuosa. Alguns ela enche de orgulho; outros afrouxa e debilita totalmente.
  2. “Mas”, diz a réplica, “Fulano conduz bem a sua prosperidade”. Sim; assim como ele controla sua bebida. Então você precisa não deixar que essa classe de homens o persuada que aquele que é sitiado pela multidão é feliz; a multidão corre para ele como correm para uma lagoa de água, tornando-a lamacenta enquanto a drenam. Mas você diz: “Os homens chamam nosso amigo de insignificante e preguiçoso“. Há homens, você sabe, cujo discurso é oblíquo, que usam termos contraditórios. Eles o chamavam de feliz; e daí? Ele era feliz?
  3. Mesmo o fato de que a algumas pessoas ele se pareça a um homem de mente muito áspera e sombria, não me incomoda. Aristo[2] costumava dizer que preferia um jovem sisudo a um homem jovial e agradável à multidão. “Pois“, acrescentava, “vinho que, quando novo, parecia áspero e azedo, torna-se bom vinho, mas o que provou bem na vindima pode não suportar a idade.” Então, que eles o chamem de severo e inimigo de seu próprio progresso, é essa severidade que irá bem quando envelhecer, desde que continue a apreciar a virtude e a absorver completamente os estudos que faz para a cultura – não aqueles suficientes para que um homem se borrife, mas aqueles em que a mente deve ser mergulhada.
  4. Agora é a hora de aprender. “O que? Há alguma época em que um homem não deva aprender?” De jeito nenhum; mas assim como é meritório para todas as idades estudar, não é meritório para todas as idades ser instruído. Um homem velho que aprende seu ABC é uma coisa vergonhosa e absurda; o jovem deve armazenar, o velho deve usar. Você, portanto, estará fazendo uma coisa mais útil para si mesmo se você fizer este amigo seu um homem tão bom quanto possível; essas bondades, dizem eles, devem ser buscadas e concedidas, pois beneficiam ao doador não menos que ao receptor; e elas são, sem dúvida, as melhores.
  5. Finalmente, não tem mais nenhuma liberdade no assunto, aquele que empenhou sua palavra. E é menos vergonhoso renegociar com um credor do que renegociar com um futuro promissor. Para pagar sua dívida de dinheiro, o homem de negócios deve ter uma viagem lucrativa, o agricultor deve ter campos frutíferos e bom tempo, mas a dívida que seu amigo deve pode ser completamente paga por mera boa vontade.
  6. A fortuna não tem jurisdição sobre o caráter. Permita regular seu caráter de modo que em perfeita paz possa trazer à perfeição aquele espírito que não sente perda nem ganho, mas que permanece na mesma atitude, não importa como as coisas se dão. Um espírito como este, se agraciado com bens mundanos, se eleva à sua riqueza; se, por outro lado, o acaso o despoja de uma parte de sua riqueza, ou mesmo de tudo, não é prejudicado.
  7. Se seu amigo tivesse nascido no Império Parta, ele teria começado, quando criança, a dobrar o arco; se na Alemanha, estaria brandindo a sua esguia lança; se ele tivesse nascido nos dias de nossos antepassados, ele teria aprendido a montar um cavalo e a castigar seu inimigo mão a mão. Estas são as ocupações que o sistema de cada estirpe recomenda ao indivíduo, – sim, prescreve a ele.
  8. A o que, então, esse amigo seu dedicará sua atenção? Eu digo, que aprenda o que é útil contra todas as armas, contra todo tipo de inimigo, – o desprezo pela morte; porque ninguém duvida que a morte tenha em si algo que inspire o terror, de modo que choca até mesmo nossas almas, que a natureza as moldou para que amem sua própria existência; pois de outro modo não haveria necessidade de nos preparar, e de aguçar nossa coragem, para encarar o que deveria ser uma espécie de instinto voluntário, precisamente da mesma forma como todos os homens tendem a preservar sua existência.
  9. Nenhum homem aprende uma coisa a fim de que, se a necessidade surgir, ele possa se deitar sobre um leito de rosas; mas ele prepara sua coragem para este fim, para que não entregue sua fé à tortura, e que, se necessário, possa algum dia ficar de guarda nas trincheiras, mesmo ferido, sem se apoiar na sua lança; porque o sono é capaz de rastejar sobre os homens que se sustentam por qualquer suporte. Na morte não há nada prejudicial; pois deve existir algo a que ela é prejudicial[3].
  10. E ainda, se você está possuído por tão grande desejo de uma vida mais longa, reflita que nenhum dos objetos que desaparecem do nosso olhar e são reabsorvidos no mundo das coisas, de onde eles surgem e em breve irão ressurgir, é aniquilado; eles simplesmente terminam o seu curso e não perecem. E a morte, de que tememos e nos afastamos, simplesmente interrompe a vida, mas não a rouba; o tempo voltará quando seremos restaurados à luz do dia; e muitos homens opor-se-iam a isso, se não fossem trazidos de volta tendo esquecido o passado.
  11. Mas quero mostrar-lhe mais tarde, com mais cuidado, que tudo o que parece perecer apenas muda. Uma vez que você está destinado a retornar, você deve partir com uma mente tranquila. Perceba como o percurso do universo repete seu curso; você verá que nenhuma estrela em nosso firmamento é extinguida, mas que todas elas surgem e se erguem em alternância. O verão foi embora, mas outro ano o trará de novo; O inverno está baixo, mas será restaurado por seus próprios meses; A noite dominou o sol, mas o dia logo derrubará a noite outra vez. As estrelas nômadas retraçam seus cursos anteriores; uma parte do céu está em ascensão incessantemente, e uma parte está afundando.
  12. Uma palavra mais, e então vou parar; os meninos, os jovens e os que ficaram loucos, não têm medo da morte, e é muito vergonhoso se a razão não pode nos dar essa paz de espírito que é trazida pela loucura.

Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.

[2] Aríston ou Aristo de Quios foi um filósofo estoico e discípulo de Zenão de Cítio. Esboçou um sistema de filosofia estoica que esteve, em muitos aspectos, mais próximo da anterior filosofia cínica. Rejeitou o lado lógico e físico da filosofia aprovada por Zenão e enfatizou a ética.

[3] Como depois da morte, nós não existimos, a morte não pode ser prejudicial para nós. Sêneca tem em mente o argumento de Epicuro: “Portanto, o mais pavoroso de todos os males, a morte, não é nada para nós, pois quando nós existimos, a morte não está presente para nós, e quando a morte está presente, então não existimos. Portanto, não diz respeito aos vivos ou aos mortos, pois para os vivos não tem existência, e para os mortos não existe. “

Carta 29: Sobre evitar ajudar os não interessados

Na carta 29 Sêneca nos ensina que não devemos tentar ajudar aqueles que não pediram ajuda ou os que não se interessam por nossos ensinamentos: “não se deve falar com um homem a menos que ele esteja disposto a ouvir.” (XXIX, 1)

Segundo Sêneca, quando distribuímos nossa ajuda indiscriminadamente esta é diluída e enfraquecida: “O arqueiro não deve atingir ao alvo apenas às vezes; ele deve errar apenas às vezes. Aquilo que é eficaz por acaso não é uma arte. Ora, a sabedoria é uma arte; ela deve ter um objetivo definido, escolhendo apenas aqueles que farão progresso, mas se afastando daqueles a quem considera incorrigíveis, mas não os abandonando prematuramente, e apenas quando o caso se mostra sem solução mesmo após tentado remédios drásticos.“(XXIX, 3)

Conclui a carta com mais uma frase de Epicuro: “Eu nunca quis atender à multidão, pois o que eu sei, eles não aprovam, e o que eles aprovam, eu não sei.”(XXIX, 10)

(Imagem Platão e Aristóteles em “Escola de Atenas” por Raphael)


Carta XXIX: Sobre evitar ajudar os não interessados

Saudações de Sêneca a Lucílio.  

  1. Você tem perguntado sobre o nosso amigo Marcelino e você deseja saber como ele está se dando. Ele raramente vem me ver, por nenhuma outra razão senão que ele tem medo de ouvir a verdade, e no momento está se mantendo afastado do perigo de ouvi-la; pois não se deve falar com um homem a menos que ele esteja disposto a ouvir. É por isso que muitas vezes se questiona se Diógenes[1] e os outros cínicos, que empregavam uma liberdade de expressão sem discernimento e ofereciam conselhos a qualquer um que se interpusesse, deveriam ter seguido esse caminho.
  2. Por que se deve reprimir os surdos ou aqueles que são mudos de nascimento ou por doença? Mas você responde: “Por que eu deveria poupar palavras? Elas não custam nada. Eu não posso saber se irei ajudar o homem a quem dou conselhos, mas sei bem que vou ajudar alguém se eu aconselhar muitos. Eu tenho que disseminar este conselho a mão-cheia. É impossível que alguém que tente muitas vezes não tenha sucesso alguma vez.”
  3. Esta prática, meu caro Lucílio, é, creio eu, exatamente o que um homem de grande alma não deve fazer; sua influência está enfraquecida; ela tem muito pouco efeito sobre aqueles que poderia ajudar se não tivesse se tornado tão rançosa. O arqueiro não deve atingir ao alvo apenas às vezes; ele deve errar apenas às vezes. Aquilo que é eficaz por acaso não é uma arte. Ora, a sabedoria é uma arte; ela deve ter um objetivo definido, escolhendo apenas aqueles que farão progresso, mas se afastando daqueles a quem considera incorrigível, mas não os abandonando prematuramente, e apenas quando o caso se mostra sem solução mesmo após tentado remédios drásticos.
  4. Quanto ao nosso amigo Marcelino, ainda não perdi a esperança. Ele ainda pode ser salvo, mas a ajuda deve ser oferecida em breve. Há realmente o risco que possa prejudicar seu ajudante; pois há nele um caráter inato de grande vigor, embora inclinado à maldade. No entanto, enfrentarei esse perigo e serei corajoso o suficiente para lhe mostrar suas falhas.
  5. Ele agirá de acordo com sua maneira usual; ele recorrerá à sua inteligência, – a inteligência que pode gerar sorrisos mesmo de lamentos. Ele vai virar a brincadeira, primeiro contra si mesmo, e depois contra mim. Ele evitará todas as palavras que eu vou dizer. Ele questionará nossos sistemas filosóficos; ele acusará os filósofos de aceitar propinas, manter amantes e satisfazer seus apetites. Ele me mostrará um filósofo que foi apanhado em adultério, outro que assombra os cafés e outro que aparece na corte.
  6. Ele vai trazer a meu conhecimento Aristo, o filósofo de Marcus Lépido, que costumava manter discussões em sua carruagem; pois esse foi o tempo que ele levou para editar suas pesquisas, de modo que Escauro disse dele quando lhe perguntaram a que escola pertencia: “De qualquer modo, ele não é um dos filósofos caminhantes[2]“. Júlio Graecino também, homem de distinção, quando lhe pediu uma opinião sobre o mesmo ponto, respondeu: “Não posso lhe dizer, porque não sei o que ele faz quando desmontado”, como se a consulta se referisse a um gladiador de biga.
  7. São charlatões desse tipo, para quem seria mais meritório ter deixado a filosofia sozinha ao invés de traficar dela, que Marcelino vai jogar em meu rosto. Mas decidi resistir às provocações; ele pode me ridicularizar, mas eu talvez o leve às lágrimas; ou, se ele persistir em suas piadas, eu me alegrarei, por assim dizer, no meio da tristeza, porque ele é abençoado com uma espécie tão alegre de loucura. Mas esse tipo de alegria não dura muito. Observe esses homens, e você vai notar que em um curto espaço de tempo eles riem em excesso e encolerizam-se em excesso.
  8. É meu plano aproximar e mostrar-lhe quanto maior é seu valor quando muitos o desprezam. Mesmo que eu não extinga seus defeitos, vou pôr um controle sobre eles; eles não cessarão, mas pararão por um tempo; e talvez até cessem, se criarem o hábito de parar. Esta é uma coisa a não ser desprezada, uma vez que para homens seriamente feridos a bênção de um alívio é um substituto para a saúde.
  9. Então, enquanto me preparo para tratar com Marcelino, você, que é capaz, e que entende de onde e para onde vai seu caminho, e que, por essa razão tem uma ideia da distância a percorrer, ajuste seu caráter, desperte sua coragem, e fique firme em face das coisas que o tem aterrorizado. Não conte o número daqueles que inspiram medo em você. Você não consideraria como um tolo quem tem medo de uma multidão em um lugar onde pode passar só um por vez? Da mesma forma, não há muitos que têm possibilidade de matar você, embora haja muitos que ameaçam você com a morte. A natureza ordenou assim que, como somente um lhe deu vida, assim somente um a retirará.
  10. Se você tivesse alguma vergonha, você teria me liberado de pagar a última parcela. Ainda assim, também não serei sovina, mas irei exonerar minhas dívidas até o último centavo e forçar sobre você o que ainda devo: “Eu nunca quis atender à multidão, pois o que eu sei, eles não aprovam, e o que eles aprovam, eu não sei.”
  11. “Quem disse isso?” Você pergunta, como se fosse ignorante a quem eu estivesse insistindo em servir; é Epicuro. Mas esta mesma palavra de ordem soa em seus ouvidos por cada seita, – Peripatético, Académico[3], Estoico, Cínico. Pois quem é satisfeito pela virtude pode agradar à multidão? É preciso truques para ganhar aprovação popular; E tem de fazer-se semelhante a eles; eles vão recusar aprovação se eles não reconhecerem em você um de si próprios. No entanto, o que você pensa de si é muito mais do que o que os outros pensam de você. A benevolência dos homens ignóbeis só pode ser conquistada por meios ignóbeis.
  12. Qual será o benefício, então, daquela filosofia alardeada, cujos elogios cantamos e que, segundo se diz, deve ser preferida a toda arte e toda propriedade? Certamente, isso fará com que você prefira agradar a si mesmo ao invés da população, isso fará você ponderar, e não meramente contar, os julgamentos dos homens, vai fazer você viver sem medo de deuses ou homens, vai fazer você vencer males ou acabar eles. Caso contrário, se eu o vejo aplaudido pela aclamação popular, se a sua entrada na cena é saudada por um rugido de aplausos e aplausos, as marcas de distinção se valem apenas para atores, – se todo o estado, mesmo as mulheres e crianças, cantam seus louvores, como posso ajudar a apiedar-se de você? Pois eu sei a qual caminho leva a tal popularidade.

Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.

[1] Diógenes de Sinope, também conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates. Tornou-se um mendigo que habitava as ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude; diz-se que teria vivido num grande barril, no lugar de uma casa, e perambulava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto. O Cinismo foi uma corrente filosófica marcada por um ostensivo desprezo pelo conforto e prazer.

[2]Escola peripatética foi um círculo filosófico da Grécia Antiga que basicamente seguia os ensinamentos de Aristóteles, o fundador. Fundada em c.336 a.C., quando Aristóteles abriu a primeira escola filosófica no Liceu em Atenas, durou até o século IV. “Peripatético” (em grego clássico: περιπατητικός), é a palavra grega para ‘ambulante’ ou ‘itinerante’. Peripatéticos (ou ‘os que passeiam’) eram discípulos de Aristóteles,

[3]Academia de Platão (também chamada de Academia PlatônicaAcademia de Atenas ou Academia Antiga) é uma academia fundada por Platão, aproximadamente em 384/383 a.C..

Pensamento do Dia #31: A filosofia não achou Platão já um nobre; ela o fez um.

“A filosofia não rejeita nem escolhe ninguém; sua luz brilha para todos.

3. Sócrates não era aristocrata. Cleantes trabalhou em um poço e serviu como um homem contratado regando um jardim. A filosofia não achou Platão já um nobre; ela o fez um. Por que então você deve temer ser capaz de se comparar a homens como estes? Eles são todos os seus ancestrais, se você se comportar de maneira digna; e você fará isso se você se convencer, desde o princípio, de que nenhum homem lhe supera em verdadeira nobreza.

4. Todos temos o mesmo número de antepassados; não há homem cujo primeiro começo não fuja da memória. Platão diz: “Todo o rei nasce de uma raça de escravos, e todo escravo tem reis entre seus antepassados”. O passar do tempo, com suas vicissitudes, tem misturado todas essas posições sociais, e a fortuna as virado de cabeça para baixo.

5. Então, quem é bem-nascido? Aquele que por natureza é bem adaptado à virtude.” ( XLIV. 2-5)

Sêneca, Carta 44 – Sobre Filosofia e Pedigrees

(Imagem: Morte de Sócrates por  Jacques-Louis David)

 

Carta 27: Sobre o Bem que Permanece

Na carta 27 Sêneca fala dos problemas que prazeres passageiros causam e da incômoda culpa que deixam muito depois do prazer acabar.

“Afaste-se daqueles prazeres desordenados, que devem ser pagos regiamente, não são apenas os que estão para vir que me prejudicam, mas também aqueles que vieram e foram. Assim como os crimes, mesmo que não tenham sido detectados ao serem cometidos, não permitem que a ansiedade acabe com eles, da mesma forma são os prazeres mundanos, o arrependimento permanece mesmo depois que os prazeres terminaram. ” (XXVII.2)

Sempre atual, Sêneca fala do pouco valor dado a sabedoria: “Nenhum homem é capaz de emprestar ou comprar uma mente sã; na verdade, como me parece, mesmo que mentes sãs estivessem à venda, não encontrariam compradores. No entanto, as mentes depravadas são compradas e vendidas todos os dias.” (XXVII.8)

Conclui a carta com mais um dito de Epicuro: “A riqueza real é a pobreza ajustada à lei da natureza.” (XXVII.9)

(Imagem, Denário de prata de Metelo Cipião, exemplo de conduta estoica segundo Sêneca)


XXVII. Sobre o Bem que permanece

Saudações de Sêneca a Lucílio.  

  1. “O que?”, diz você, “Está me dando conselhos?” De fato, você já se aconselhou, já corrigiu suas próprias falhas? É esta a razão por que você tem tempo livre para reformar outros homens? Não, não sou desavergonhado ao ponto de pretender curar meus semelhantes quando estou doente. Estou, no entanto, discutindo com você problemas que afetam a nos dois, e compartilhando o remédio com você, como se estivéssemos padecendo no mesmo hospital. Ouça-me, portanto, como faria se eu estivesse falando sozinho. Eu estou confessando a você meus pensamentos mais íntimos, e estou discutindo comigo mesmo, usando-o apenas como pretexto.
  2. Eu continuo gritando para mim mesmo: “Conte seus anos, e você terá vergonha de desejar e perseguir as mesmas coisas que você desejou em seus dias de juventude. Certifique-se desta única coisa antes de morrer, – deixe suas falhas perecerem antes. Afaste-se daqueles prazeres desordenados, que devem ser pagos regiamente, não são apenas os que estão para vir que me prejudicam, mas também aqueles que vieram e foram. Assim como os crimes, mesmo que não tenham sido detectados ao serem cometidos, não permitem que a ansiedade acabe com eles, da mesma forma são os prazeres mundanos, o arrependimento permanece mesmo depois que os prazeres terminaram. Eles não são substanciais, eles não são confiáveis, mesmo se eles não nos prejudicam, eles são passageiros.
  3. Procure ao invés bens que permanecem. Mas não há tal bem, a não ser aquele descoberto pela alma por si mesma: só a virtude proporciona uma alegria eterna e tranquilizadora, mesmo que surja algum obstáculo, mas como uma nuvem passageira, que se interpõe frente ao sol, mas nunca prevalece contra ele. “
  4. Quando será sua vez de alcançar esta alegria? Até agora, você realmente não foi lerdo, mas você deve acelerar o seu ritmo. Resta muito trabalho; para enfrentá-lo, você deve usar todas suas horas de vigília, e todos seus esforços, se você deseja o resultado realizado. Este assunto não pode ser delegado a outra pessoa.
  5. O outro tipo de atividade intelectual admite assistência externa. Em nossa época havia um certo homem rico chamado Calvísio Sabino; ele tinha a conta bancária e o cérebro de um escravo liberto. Nunca vi um homem cuja boa fortuna tenha sido uma ofensa maior a sua propriedade. Sua memória era tão falha que ele às vezes esqueceria o nome de Ulisses, ou Aquiles, ou Príamo, nomes que conhecemos tão bem quanto conhecemos os de nossos próprios assistentes. Nenhum idoso senil, que não pode dar a homens seus nomes próprios, mas é compelido a inventar nomes para eles, – nenhum homem, eu digo, clama os nomes dos membros de sua tribo de forma tão atroz como Sabino costumava chamar os heróis de Troia e Aqueus. Mas, no entanto, ele desejava parecer erudito.
  6. Assim ele inventou este atalho para aprender: ele pagou preços fabulosos por escravos, – um para conhece Homero de cor e outro para Hesíodo; ele também delegou um escravo especial para cada um dos nove poetas líricos[1]. Você não precisa se admirar que ele tenha pago altos preços por esses escravos; se ele não os encontrava prontos à mão ele encomendava um a ser feito sob medida. Depois de recolher este séquito, ele começou a aborrecer seus convidados; Ele mantinha esses ajudantes ao pé de seu sofá, e pedia de vez em quando os versos para que ele os repetisse, que, muitas vezes, eram quebrados no meio de uma palavra.
  7. Satelio Quadrato, um instigador e, consequentemente, um puxa-saco de milionários fúteis, e também (pois esta qualidade vai com as outras duas) um zombador deles, sugeriu a Sabino que ele deveria ter filólogos para reunir os pedaços. Sabino observou que cada escravo havia lhe custado cem mil sestércios; Satelio respondeu: “Você poderia ter comprado tantas quantas estantes de livros por uma quantia menor.” Mas Sabino sustentou que o que qualquer membro de sua casa sabe, ele mesmo também sabe.
  8. Este mesmo Satelio começou a aconselhar Sabino a tomar lições de luta, mesmo doentio, pálido e magro como era, Sabino respondeu: “Como posso? Eu mal posso ficar vivo agora.” – “Não diga isso, eu lhe suplico” – replicou o outro -, “considere quantos escravos perfeitamente saudáveis você tem!” Nenhum homem é capaz de emprestar ou comprar uma mente sã; na verdade, como me parece, mesmo que mentes sãs estivessem à venda, não encontrariam compradores. No entanto, as mentes depravadas são compradas e vendidas todos os dias.
  9. Mas deixe-me pagar a minha dívida e dizer adeus: “A riqueza real é a pobreza ajustada à lei da natureza.” Epicuro repete este dizer de várias maneiras e contextos; mas nunca pode ser repetido em excesso, já que nunca é compreendido muito bem. Pois para algumas pessoas o remédio deve ser meramente prescrito; no caso de outras, deve ser forçado goela abaixo.

Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.

[1] Troia e Aqueus: a Ilíada era a leitura de matéria-prima dos estudantes romanos de elite, mas Calvísio, nem conseguia lembrar seus heróis homéricos. (Os assistentes pessoais atendiam os políticos fornecendo os nomes de quem eles encontravam no fórum.) Hesíodo era muito favorecido por suas máximas morais, mas os nove poetas líricos são muito menos propensos a fazer parte do repertório romano e a compra de nove escravos, um por cada poeta, certamente foi adicionado por Sêneca para animar a história.

Como iniciar o estudo do estoicismo

Acredito que a melhor forma de conhecer o estoicismo é ler os clássicos: Epicteto, Sêneca,  Marco Aurélio, Catão e Cícero. Destes, Sêneca é a leitura mais fácil. O livro “Estoicismo” de George Stock é uma envolvente explicação do estoicismo clássico.

Muitos preferem iniciar o estudo lendo textos contemporâneos, nesse caso sugiro ler  William Irvine,  Massimo PigliucciPatrick UssherRyan Holiday este último criticado como “auto-ajuda”.

Uma sugestão é rever os princípios estoicos nas postagens abaixo, e então se aprofundar nas leituras indicadas.

Princípios Estoicos:


Livros recomendados: 

Clássicos:

         

        

     

        

     

       

        

Contemporâneos:

     

     

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Princípio Estoico #2: Viva pela Virtude

Alcançar a “virtude” é o bem mais elevado.

O que os estoicos denotavam como “virtude” era sobressair ou florescer em termos de nossa natureza humana racional. Basicamente, quando você vive de acordo com a virtude, você está vivendo a Boa Vida. Essa excelência humana se dá em diferentes formas de virtude destacada nas quatro virtudes cardeais:

  • Sabedoria prática: a habilidade de navegar situações complexas de forma lógica, informada e calma;
  • Autodisciplina ou Temperança: o exercício de autorrestrição e moderação em todos os aspectos da vida;
  • Justiça: tratar outros justamente mesmo quando fazem algo errado;
  • e Coragem: não só em circunstâncias extraordinárias, mas ao encararmos desafios diários com claridade e integridade.

Quando agimos de acordo com essas virtudes, caminhamos para a Boa Vida. No sentido estoico, você só pode ser virtuoso se praticar todas as virtudes. A virtude é um pacote tudo-ou-nada e somente um Sábio as têm completamente. É importante entender que o conceito “sábio” para os filósofos antigos é um ideal a ser atingido, e não alguém real. Segundo Sêneca o sábio se equivale aos deuses, com a única distinção do sábio ser humano e mortal.

Para os estóicos, é indiscutível que a virtude deva ser sua própria recompensa. Você faz algo porque é a coisa certa a fazer. Você age virtuosamente por sua própria causa.  Às vezes, agir de acordo com a virtude traz benefícios adicionais,  no entanto, esses benefícios devem ser interpretados como “bônus adicional” e não podem ser o principal motivo da ação.

(Imagem: Escolha de Hercules entre a Virtude e Vício por Pelagio Pelagi)

 


Princípios Estoicos: