Como citamos anteriormente, durante o governo de Marco Aurélioocorreu a Peste Antonina que devastou o Império Romano, causando a morte de cinco milhões de pessoas.
Lidar com o medo da morte é tema recorrente das Meditações. A peste também é citada, como neste trecho, em que o imperador condena atitudes irracionais:
“corrupção da mente é uma doença muito mais grave do que qualquer peste equiparável no ar que nos cerca. Pois esta corrupção é uma peste animal tanto quanto eles são animais; mas a outra é uma peste de homens tanto quanto eles são homens.”
Todo o terceiro parágrafo aborda a atitude esperada diante da morte: Não ser descuidado, mas não temer.
Não despreze a morte, mas fique em paz com ela, pois esta também é uma daquelas coisas que a natureza quer. Pois tal como é ser jovem e envelhecer, e crescer e alcançar a maturidade, e ter dentes, barba e cabelos brancos, e conceber e estar grávida e procriar, e todas as outras operações naturais que as estações da sua vida trazem, tal também é a dissolução. Isto, portanto, é consistente com o caráter de um homem que reflete – não ser descuidado, nem impaciente, nem desdenhoso em relação à morte, mas esperar por ela como uma das operações da natureza. Como agora espera o momento em que a criança sairá do ventre de sua esposa, assim esteja pronto para o momento em que sua alma sair deste envelope. (Livro IX, 3)
Na carta 78 Sêneca explica como a mente treinada em filosofia tem capacidade de cura. Para o estoicismo uma mente tranquila e receptiva, uma atitude serena e positiva, e um estado de equilíbrio e harmonia protegem a saúde do corpo.
A carta começa com a experiência pessoal de Sêneca, que sofria de problemas pulmonares, provavelmente asma. Conta que quase morreu, ficando reduzido a extrema magreza, mas que graças a filosofia recuperou suas forças:
“tudo o que eleva a alma ajuda o corpo também. Meus estudos foram minha salvação. Eu credito à filosofia que tenha recuperado minhas forças. Devo minha vida à filosofia, e essa é a menor das minhas obrigações!” (LXXVIII, 3)
Depois da anedota particular, Sêneca decompõe os elementos psicológicos da doença, que para ele são:
medo da morte;
dor corporal;
interrupção dos prazeres.
Então nos ensina como a filosofia pode aplacar cada um deles. Sobre a morte, afirma:
Você vai morrer, não porque você está doente, mas porque você está vivo; Mesmo após você tiver sido curado, o mesmo fim o espera; quando você se recuperar, não será da morte, mas da má saúde, que você escapou. (LXXVIII,6)
Em relação a dor, nos tranquiliza dizendo que a natureza nos fez de maneira que “nenhum homem pode sofrer severamente e por muito tempo“, afirmando que qualquer dor será “suportável ou curta.“
Depois foca no terceiro ponto, ou seja, a interrupção dos prazeres ocasionado pela doença. Para Sêneca nossos próprios desejos desaparecem quando aparece a enfermidade, então “não há amargura em ficar sem o que você deixou de desejar.“
Conclui a carta recomendando a Lucílio que foque no presente e lembre que mesmo doente um homem pode mostrar seu valor:
“Dois elementos devem ser erradicados de uma vez por todas: o medo do sofrimento futuro e a lembrança do sofrimento passado; já que este último não me preocupa mais, e o primeiro não me preocupa ainda.” (LXXVIII, 14)
“um homem pode mostrar bravura mesmo quando envolvido em pijama hospitalar. Você tem algo a fazer: lutar bravamente contra a doença.” (LXXVIII, 21)
1. Estou
desolado por ouvir que é frequentemente incomodado pelo catarro e por crises
curtas de febre que os seguem e, particularmente porque eu mesmo experimentei
esse tipo de doença e a desprezei em seus estágios iniciais. Pois quando eu
ainda era jovem, eu podia suportar dificuldades e mostrar um semblante ousado
para a doença. Mas eu finalmente sucumbi, e cheguei a tal estado que não podia
fazer nada além de fungar, reduzido a extrema magreza[1].
2. Eu frequentemente
debati com o impulso de terminar minha vida; mas a lembrança do meu velho pai
me manteve em pé. Pois eu refleti, não como corajosamente eu tinha o poder de
morrer, mas quão pouco poder ele teria em suportar corajosamente a perda de
mim. E assim me mandei viver. Por vezes
é um ato de bravura até mesmo viver.
3. Agora
vou dizer-lhe o que me consolou nesses dias, afirmando desde o início que estas
mesmas ajudas à minha paz de espírito eram tão eficazes quanto a medicina. Consolação
honrosa resulta em cura; e tudo o que
eleva a alma ajuda o corpo também. Meus estudos foram minha salvação. Eu credito
à filosofia que tenha recuperado minhas forças. Devo minha vida à filosofia, e
essa é a menor das minhas obrigações!
4. Meus
amigos, também, me ajudaram muito em atingir a boa saúde; eu costumava ser
confortado por suas palavras animadoras, pelas horas que passavam à minha
cabeceira e por sua conversa. Nada, meu excelente Lucílio, refresca e auxilia
um doente tanto quanto o afeto de seus amigos; nada mais rouba a expectativa e
o medo da morte. Na verdade, eu não podia acreditar que, se eles sobrevivessem
a mim, eu deveria morrer. Sim, repito, pareceu-me que eu deveria continuar a
viver, não com eles, mas através deles. Imaginei-me a não ceder a minha alma,
mas a transferir para eles. Todas estas coisas me deram a disposição de me
socorrer e suportar qualquer tortura; além disso, é um estado muito miserável
ter perdido o entusiasmo em morrer, e não ter nenhum entusiasmo em viver.
5. Esses,
então, são os remédios aos quais você deve recorrer. O médico prescreverá seus
passeios e seu exercício; ele o advertirá a não se tornar viciado na
ociosidade, como é a propensão do inválido inativo; ele ordenará que você leia
com mais força e exercite em seus pulmões as passagens e cavidades afetadas; ou
a navegar e sacudir suas entranhas por um movimento suave; ele recomendará o
alimento apropriado, e o momento apropriado para auxiliar sua força com vinho
ou abster-se dele a fim reduzir sua tosse. Mas quanto a mim, o meu conselho
para você é este, – e é uma cura, não apenas desta sua doença, mas para toda a
sua vida, – “Despreze a morte”. Não há sofrimento no mundo, quando
escapamos do medo da morte.
6. Há três elementos sérios em cada doença: medo da morte, dor corporal e interrupção dos prazeres. Sobre a morte já foi dito, e eu vou acrescentar apenas uma palavra: este medo não é um medo da doença, mas um medo da natureza. Muitas vezes a doença adia a morte, e a visão da morte tem sido a salvação de muitos homens. Você vai morrer, não porque você está doente, mas porque você está vivo; Mesmo após você tiver sido curado, o mesmo fim o espera; quando você se recuperar, não será da morte, mas da má saúde, que você escapou.
7. Voltemos
agora à consideração da desvantagem característica da doença: é acompanhada por
grande sofrimento. O sofrimento, no entanto, é tornado suportável por
interrupções; pois a tensão da dor extrema deve chegar ao fim. Nenhum homem
pode sofrer severamente e por muito tempo; A natureza, que nos ama com muita
ternura, nos constituiu para fazer a dor suportável ou curta.
8. As dores
mais severas têm seu assento nas partes mais esbeltas de nosso corpo: nervos,
articulações e qualquer outra das passagens estreitas, machucam mais cruelmente
quando desenvolvem problemas dentro de seus espaços contraídos. Mas estas partes
tornam-se logo entorpecidas e, por causa da própria dor, perdem a sensação de
dor, seja porque a força vital, quando enquadrada em seu curso natural e
alterada para o pior, perde o poder peculiar através do qual prospera e através
da qual ela nos adverte, ou porque os humores enfermos do corpo, quando deixam
de ter um lugar em que possam fluir, são lançados de volta sobre si mesmos e
privam de sensação as partes em que causaram a congestão.
9. Tanto a
gota, não só nos pés como nas mãos, e toda a dor nas vértebras e nos nervos,
têm seus intervalos de descanso em momentos em que têm entorpecido as partes
que antes torturaram; as primeiras pontadas, em todos esses casos, são o que
causa a angústia, e seu início é determinado por lapso de tempo, de modo que há
um fim na dor quando o entorpecimento se inicia. A dor nos dentes, olhos e
ouvidos é mais aguda pelo fato de estar entre os estreitos espaços do corpo,
não menos aguda do que na própria cabeça. Mas se é mais violenta do que o
habitual, ela se transforma em delírio e estupor.
10. Isto é,
por conseguinte, um consolo para a dor excessiva, – que você deixará de
senti-la se sentir em excesso. A razão, entretanto, por que os inexperientes
são impacientes quando seus corpos sofrem é que eles não se habituaram a se
contentar em espírito. Eles têm estado intimamente associados com o corpo.
Portanto, um homem de mente elevada e sensível separa a alma do corpo, e convive
com a parte melhor ou divina, e somente na medida em que é obrigado, com a
parte queixosa e frágil.
11.
“Mas é uma dificuldade”, dizem os homens, “ficar sem os nossos
prazeres habituais, – jejuar, sentir sede e fome”. Estes são realmente
graves quando primeiro se abstém deles. Mais tarde o desejo morre, porque os
próprios apetites que levam ao desejo se cansam e nos abandonam; então o
estômago torna-se petulante, então o alimento pelo qual nós suplicávamos antes
se torna odioso. Nossos próprios desejos desaparecem. E não há amargura em ficar sem o que você deixou de desejar.
12. Além
disso, toda dor, por vezes, para, ou de qualquer modo afrouxa; além disso,
pode-se tomar precauções contra o seu retorno, e, quando ameaça, podemos
controlá-la por meio de remédios. Cada variedade de dor tem seus sintomas
premonitórios; isso é verdade, principalmente, na dor habitual e recorrente.
Podemos suportar o sofrimento que a doença ocasiona, quando consideramos seus
resultados com desprezo.
13. Mas não
por você mesmo faça as suas angústias mais pesadas carregando-as de queixas. A
dor é ligeira se seu juízo não acrescentou nada; mas se, por outro lado, você
começar a encorajar a si mesmo e dizer: “Não é nada, – é um assunto
insignificante, mantenha um coração forte e que em breve cessará”; Em
seguida, ao pensar que é leve, você vai torná-la leve. Tudo depende da opinião;
ambição, luxo, ganância, está ligado à opinião. É de acordo com a opinião que
sofremos.
14. Um
homem é tão miserável como se convenceu que seja. Creio que devemos acabar com
a queixa sobre os sofrimentos passados e com toda a linguagem como esta:
“Ninguém nunca esteve pior do que eu. Que sofrimentos, que males tenho
suportado! Ninguém pensa que eu me recuperarei. Minha família lamenta por mim,
e os médicos desistiram de mim! Homens que são torturados não são despedaçados
com tanta agonia!” No entanto, mesmo se tudo isso é verdade, é findo e
passou. Que benefício há na revisão de sofrimentos passados, e em ser infeliz,
só porque uma vez que você esteve infeliz? Além disso, todos acrescentam muito
aos seus próprios males e contam mentiras para si mesmo. E o que era amargo de
suportar é agradável de ter suportado; é natural regozijar-se com o fim dos
males. Dois elementos devem ser
erradicados de uma vez por todas: o medo do sofrimento futuro e a lembrança do
sofrimento passado; já que este último não me preocupa mais, e o primeiro não
me preocupa ainda.
15. Mas,
quando estivermos no meio dos problemas, deveríamos dizer:
Talvez um dia a
lembrança desta tristeza
vai até mesmo trazer
prazer.
Deixe um
homem lutar contra eles com toda a sua força: se uma vez cede, vai ser vencido;
mas se luta contra os seus sofrimentos, vencerá. De fato, no entanto, o que a
maioria dos homens faz é arrastar em suas próprias cabeças uma ruína que eles
deveriam tentar erradicar. Se você começar a retira seu apoio daquilo que lhe
faz avançar e cambaleia e está pronto para submergir, a derrota irá seguir você
e se apoiar mais pesadamente sobre você; mas se você se mantiver firme e se
decidir a revidar, ela será forçada para trás.
16. Que
golpes os atletas recebem no rosto e em todo o corpo! No entanto, por seu
desejo de fama, eles sofrem cada tortura, e eles sofrem essas coisas não só
porque eles estão lutando, mas para poder lutar. Seu próprio treinamento
significa tortura. Portanto, deixemos conseguir também o caminho para a vitória
em todas as nossas lutas, pois a recompensa não é uma guirlanda, nem um ramo de
palmeira, nem um trompetista que pede silêncio ao proclamar nossos nomes, mas
sim virtude, firmeza de alma e paz que é ganha para sempre, se a fortuna for
completamente vencida em qualquer combate. Você diz, “eu sinto dor
severa.”
17. O que
então; você será aliviado de senti-la, se você a suportar como uma mulher?
Assim como um inimigo é mais perigoso para um exército em retirada, também cada
problema que a fortuna nos traz nos ataca mais ainda se cedermos e virarmos as
costas. – “Mas o problema é sério”. O que? É para este propósito que
somos fortes, – para que tenhamos cargas leves a suportar? Você teria sua
doença prolongada, ou a faria rápida e curta? Se é longa, significa uma trégua,
permite-lhe um período para descansar a si mesmo, concede a você a bênção do
tempo em abundância; assim como surge, também deve retroceder. Uma doença curta
e rápida fará uma de duas coisas: ela irá saciar-se ou ser extinguida. E que
diferença faz se ela não é mais ou eu não o sou? Em ambos os casos, há um fim
da dor.
18. Isso,
também, ajudará – a focar a mente para pensamentos de outras coisas e, assim,
afastar-se da dor. Lembre-se de que atos honrados ou corajosos que fez;
considere o lado bom de sua própria vida. Discorra em sua memória aquelas
coisas que você particularmente admirou. Então pense em todos os homens
corajosos que superaram a dor: daquele que continuou a ler seu livro enquanto
permitiu o corte das veias com varizes; daquele que não cessava de sorrir,
embora aquele mesmo sorriso enfurecesse tanto seus torturadores que
experimentavam sobre ele todo instrumento de sua crueldade. Se a dor pode ser
conquistada por um sorriso, não será conquistada pela razão?
19. Você
pode me dizer agora o que você quiser – de resfriados, ataques de tosse que
trazem para cima partes de nossas entranhas, febre que enche nossos órgãos
vitais, sede, membros tão torcidos que as articulações se projetam em
diferentes direções; ainda pior do que estes são a estaca, a cremalheira, o
ferro em brasa, o instrumento que reabre as feridas enquanto as feridas estão
ainda inchadas e que impulsiona sua marca ainda mais profundamente. No entanto,
houveram homens que não pronunciaram gemidos em meio a essas torturas. – Mais
ainda! Diz o torturador; mas a vítima não implora por libertação. – Mais ainda!
Ele diz novamente; mas nenhuma resposta chega. – Mais ainda! A vítima sorri, e
de coração. Você não pode tentar, após um exemplo como este, também zombar da
dor?
20.
“Mas”, objeta, “a minha doença não me permite fazer nada,
afastou-me de todos os meus deveres”. É o seu corpo que é prejudicado pela
má saúde, e não a sua alma. É por esta razão que obstrui os pés do corredor e
dificulta a obra do sapateiro ou do artesão; mas se sua alma estiver
habitualmente em prática, você vai peticionar e ensinar, ouvir e aprender,
investigar e meditar. O que mais é necessário? Você acha que não está fazendo
nada se possui autocontrole mesmo doente? Você estará mostrando que uma doença
pode ser superada, ou de qualquer forma suportada.
21. Há, asseguro-lhe, um lugar para a virtude mesmo sobre um leito de hospital. Não é só a espada e a frente de batalha que provam a alma alerta e não conquistada pelo medo; um homem pode mostrar bravura mesmo quando envolvido em pijama hospitalar. Você tem algo a fazer: lutar bravamente contra a doença. Se ela não o obrigar a nada, não o seduzir a nada, é um exemplo notável que exibirá. Que grande assunto para a fama, se pudéssemos ter espectadores de nossa doença! Seja seu próprio espectador; busque seus próprios aplausos.
22.
Novamente, há dois tipos de prazeres. A doença restringe os prazeres do corpo,
mas não acaba com eles. Não, se a verdade for considerada, serve para excitá-los;
porque quanto mais sedento é um homem, mais ele gosta de beber; quanto mais
fome ele tem, mais prazer toma na comida. O que quer que se obtenha depois de
um período de abstinência é recebido com maior entusiasmo. O outro tipo, no
entanto, os prazeres da mente, que são maiores e menos incertos, nenhum médico
pode recusar ao doente. Quem procura estes e sabe bem o que são, despreza todos
os prazeres dos sentidos.
23. Os
homens dizem: “Pobre companheiro doente!” Mas por que? É porque ele
não mistura neve com o seu vinho, ou porque ele não reaviva o frio de sua
bebida – misturado como está em uma tigela de bom tamanho com lascas de gelo?
Ou porque não tem ostras frescas do Lago de Lucrino[3] abertas à sua mesa? Ou porque não há nenhum barulho de cozinheiros em sua sala
de jantar, pois eles trazem em seu aparelho de cozinha junto com seus
mantimentos? Pois o luxo já inventou essa moda – de levar a cozinha para
acompanhar o jantar, para que a comida não fique morna ou não seja
insuficientemente quente para um paladar já endurecido pelo mimo.
24.
“Pobre doente!” – Ele vai comer tanto quanto pode digerir. Não haverá
javali diante de seus olhos, banido da mesa como se fosse uma carne comum; e no
seu aparador não haverá amontoado nenhum de carne de peito de pássaros, porque
o enoja ver pássaros servidos inteiros. Mas que mal lhe foi feito? Você vai
jantar como um homem doente, ou às vezes, como um homem sadio.
25. Todas
estas coisas, no entanto, podem ser facilmente suportadas – o mingau, a água
morna, e qualquer outra coisa que parece insuportável para um homem exigente,
para quem está chafurdando no luxo, doente na alma e não no corpo – se apenas
deixarmos de estremecer com a morte. E deixaremos, apenas quando tivermos
adquirido o conhecimento dos limites do bem e do mal; então, e só então, a vida
não nos cansará, nem a morte nos fará temer.
26. Porque
o excesso de si mesmo nunca pode aproveitar uma vida que avalia todas as coisas
que são múltiplas, grandes, divinas; Só o ócio inútil costuma fazer os homens
odiarem suas vidas. Para aquele que percorre o universo, a verdade nunca pode
esmorecer; serão as inverdades que irão enfastiar.
27. E, por
outro lado, se a morte se aproxima com seu chamado, mesmo que intempestivo em
sua chegada, mesmo cortado em seu primor, um homem já provou o gosto de tudo o
que uma vida mais longa poderia dar. Tal homem, em grande medida, chegou a
compreender o universo. Ele sabe que as coisas honrosas não dependem do tempo
para o seu crescimento; mas qualquer
vida deve parecer curta para aqueles que medem seu comprimento por prazeres que
são vazios e por isso sem limites.
28.
Refresque-se com pensamentos como estes, e, entretanto, reserve algumas horas
para nossas cartas. Chegará um tempo em que nos uniremos novamente; por mais
curto que este tempo possa ser, vamos fazê-lo longo, sabendo como empregá-lo.
Pois, como afirma Posidônio: “Um só dia entre os sábios dura mais do que a
vida mais longa dos ignorantes”.
29. Enquanto isso, agarre-se a este pensamento e abrace-o de perto: não ceda à adversidade; não confie na prosperidade; mantenha diante de seus olhos todo o alcance do poder da Fortuna, como se ela certamente fosse fazer tudo o que pode fazer. Aquilo que há muito tempo se espera vem mais suavemente.
Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.
[1] A tal ponto que
Calígula, inimigo de Sêneca, se absteve de executá-lo, com o pretexto que logo
morreria.
[3] Lago de Lucrino é
um lago de água salgada da Campânia, no sul da Itália. Nos dias romanos, sua
pescaria era importante e suas ostras muito apreciadas – como são ainda hoje.
Caro Epicteto: Estou preocupado com o coronavírus. Dizem que é uma pandemia, e que até 70% da população mundial pode ser contaminada. Já há casos aqui em SP. Eu não quero ficar doente, ou que a minha família fique doente. Como posso ficar em segurança?
– Paulista Apreensivo
Caro escravo: Todos nós vamos morrer. Talvez de coronavírus, talvez de câncer, talvez de um ataque cardíaco. O quê? Achava que era imortal? Que importa se vai morrer na próxima semana, com febre e pulmões cheios de catarro, ou daqui a 50 anos, enrugado e fraco e incapaz de se lembrar do seu próprio nome? Deixe a sua hora da morte para o destino. Enquanto isso, lave as mãos por 30 segundos, não toque no rosto, diga à sua família que você os ama e tente ser uma boa pessoa.
Não é o coronavírus que o perturba, mas apenas o seu julgamento sobre ele.
Os homens não se importam quão nobremente vivem, mas só por quanto tempo, embora esteja ao alcance de cada homem viver nobremente, enquanto é impossível a qualquer homem viver por muito tempo.