Pensamento do Dia #6: (Sobre Festivais e Jejum, 6-7)
Reserve um certo número de dias, durante os quais você se contentará com a alimentação mais barata e escassa, com vestes grosseiras e ásperas, dizendo a si mesmo: “É esta a situação que eu temia?“. É precisamente em tempos tranquilos que a alma deve endurecer-se de antemão para ocasiões de maior estresse, e é enquanto a fortuna é amável que se deve fortalecer contra violência. Em dias de paz, o soldado executa manobras, lança obras de terraplenagem sem inimigo à vista, e se exercita, a fim de se tornar indiferente a labuta inevitável. Se você não quer que um homem recue quando a crise chegar, treine-o antes que ela chegue.
(Sêneca, Carta XVIII. Sobre Festivais e Jejum, 6-7 ) (Imagem: Daniele Crespi, Jejum de São Carlos Borromeo)
A filosofia do Estoicismo
- Sabedoria prática, a habilidade de navegar situações complexas de forma lógica, informada e calma;
- Temperança, o exercício de autorrestrição e moderação em todos os aspectos da vida;
- Justiça, tratar outros justamente mesmo quando eles fizeram algo errado;
- e Coragem, não só em circunstâncias extraordinárias, mas ao encararmos desafios diários com claridade e integridade.
Excelente resumo do estoicismo, apesar de falado somente em inglês as legendas em português estão bastante razoáveis:
Pensamento do Dia #5: (Sobre a ira, III.12)
Enquanto estiver com raiva, você não deve ser autorizado a fazer nada. “Por que”, você pergunta? Porque quando você está com raiva, não há nada que você deveria desejar poder fazer.
Como a raiva é uma loucura temporária, o melhor é esperar diminuir antes de tomar qualquer ação.
(Seneca, Sobre a ira, III.12) (Imagem: Furia de Aquiles – por Coypel)
Pensamento do Dia #4 (Razões para se retirar do mundo, 5)
Aquele que anseia riquezas sente medo por conta delas. Nenhum homem, no entanto, goza de uma bênção que traz ansiedade; ele está sempre tentando adicionar um pouco mais. Enquanto ele se intrica em aumentar sua riqueza, ele se esquece de usá-la. Ele recolhe suas contas, desgasta o pavimento do fórum, ele revira seu livro-razão, – em suma, ele deixa de ser mestre e torna-se um mordomo.
(Sêneca, Carta XIV. Sobre as razões para se retirar do mundo, 5) (Imagem: Homen contando dinheiro – por Cornelis de Man)
Pensamento do Dia #3: (Sobre medos infundados, 5)
Algumas coisas nos atormentam mais do que deveriam; algumas nos atormentam antes do que deveriam; e algumas nos atormentam quando não deveriam nos atormentar. Temos o hábito de exagerar, imaginar, antecipar, a tristeza. A primeira dessas três faltas pode ser adiada no momento, porque o assunto está em discussão e o caso ainda está no tribunal, por assim dizer. O que eu chamo de insignificante, você considerará a ser mais grave; pois é claro que eu sei que alguns homens riem enquanto são açoitados, e que outros estremecem com um tapa orelha. Consideraremos mais tarde se esses males derivam seu poder de sua própria força ou de nossa própria fraqueza.
(Sêneca, Sobre medos infundados, 5) (Imagem: O Grito – por Munch)
Pensamento do Dia #2: (Sobre a Velhice, 6-7)
A Morte, no entanto, deve ser olhada no rosto por jovens e velhos. Nós não somos convocados de acordo com nossa idade. Além disso, ninguém é tão velho que seria impróprio esperar mais um outro dia de existência. E um dia, lembre-se, é uma etapa na jornada da vida. Nosso escopo de vida é dividido em partes; consiste em grandes círculos que encerram menores. O menor círculo de todos é o dia; mas mesmo um dia tem seu começo e seu término, seu nascer e seu pôr-do-sol.
Portanto, todos os dias deveriam ser regulados como se fechassem a série, como se estivessem completando nossa existência. Quando um homem diz: “Eu tenho vivido!” toda manhã que acorda, recebe um bônus.
(Sêneca, Sobre a Velhice, 6-7) (Imagem: Morte de Sêneca – por David)
Pensamento do Dia #1 (Seneca, Sobre a ira, III.5)
A ira traz dor a um pai, o divórcio a um marido, o ódio a um magistrado, o fracasso ao candidato a cargo público. É pior do que a luxuria, porque a luxúria goza de seu próprio prazer, enquanto a ira goza da dor do outro.
(Seneca, Sobre a ira, III.5) (Imagem: Furia de Aquiles – por Coypel)
Carta 2: Sobre a falta de foco no Estudo
II. Sobre a falta de foco na leitura
Saudações de Sêneca a Lucílio.
1. Julgando pelo que você me escreve e pelo que eu ouço, eu estou formando uma boa opinião a respeito de seu futuro. Você não corre para cá e para lá e se distrai mudando sua morada; pois tal inquietação é o sinal de um espírito desordenado. A principal indicação, na minha opinião, de uma mente bem ordenada é a habilidade de um homem em permanecer em seu lugar e ficar bem em sua própria companhia.
2. Tenha cuidado, no entanto, porque esta leitura de muitos autores e livros de qualquer espécie tendem a torná-lo dispersivo e instável. Você deve permanecer entre um número limitado de mestres pensadores e digerir suas obras, para que construa ideias firmes em sua mente. Estar em todo lugar significa também estar em lugar nenhum. Quando uma pessoa gasta todo o seu tempo em viagens ao estrangeiro, ela termina por ter muitos conhecidos, mas nenhum amigo. E a mesma coisa deve ser válida para os homens que não procuram o conhecimento íntimo de um único autor, mas visitam todos de uma maneira precipitada e apressada.
3. O alimento não faz bem e não é assimilado pelo corpo se ele deixa o estômago assim que é comido; nada impede uma cura tanto quanto a mudança frequente de medicamento; nenhuma ferida cicatrizará quando for tentado um bálsamo após outro; uma planta que é movida frequentemente nunca pode crescer forte. Não há nada tão eficaz que possa ser útil enquanto está sendo deslocado. E na leitura de muitos livros há distração. Por conseguinte, uma vez que não é possível ler todos os livros que você pode possuir, é suficiente possuir apenas tantos livros quanto você pode ler.
4. “Mas”, você responde, “eu desejo mergulhar primeiramente em um livro e então em outro”. Eu lhe digo que é o sinal de gula brincar com muitos pratos; pois quando são múltiplos e variados, eles enfastiam, mas não alimentam. Então você deve sempre ler autores de qualidade; e quando você anseia por uma mudança, retroceda àqueles que você leu antes. Cada dia adquira algo que o fortaleça contra a pobreza, contra a morte e contra outros infortúnios; e depois de ter examinado muitos pensamentos, selecione um para ser completamente digerido naquele dia.
5. Esta é minha própria prática; das muitas coisas que eu li, eu reivindico uma parte para mim. A reflexão para hoje é uma que eu descobri em Epicuro. Isso porque eu sou acostumado a entrar até mesmo no campo do inimigo[♦], não como um desertor, mas como um batedor.
6. Ele diz: “É um bem desejável conservar a alegria em plena pobreza.” Na verdade, se estiver satisfeito, não é pobreza. Não é o homem que tem pouco, mas o homem que anseia por mais, quem é pobre. De que importa o que um homem tem guardado em seu cofre, ou em seu armazém, quão grandes são os seus rebanhos e quão gordos são os seus dividendos, se ele cobiça a propriedade do seu vizinho e não conta os seus ganhos passados, mas as suas esperanças de ganhos vindouros? Você pergunta qual é o limite adequado para a riqueza? É, primeiro, ter o que é necessário e, segundo, ter o que é suficiente.
Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.
[♦] Estoicismo em oposição ao Epicurismo.