Princípio Estoico #5: Tome ação

Vimos nos princípios anteriores que a maioria das coisas não está sob nosso controle e que devemos aborda-las com indiferença. Então, podemos descansar, não fazer nada e não se importar com  nada?

Não e não.

Nas palavras de Donald Robertson, “Os eventos não estão determinados a acontecer de forma particular, independentemente do que você faz, mas sim junto com o que você faz … O resultado dos eventos ainda depende das suas ações. O verdadeiro filósofo, um guerreiro da mente“. (Stoicism and the Art of Happiness)

Você controla suas ações. Os estoicos não eram indiferentes às suas próprias ações. Uma vez que queriam viver de acordo com a virtude para chegar à vida eudaimônica, eles deveriam  “fazer a coisa certa”. Sempre.

Sim, o estoicismo é uma filosofia de vida prática. Para os estoicos, não basta pensar em como viver a própria vida, mas realmente sair ao mundo e praticar suas ideias.

Outra coisa que os estóicos entendiam, que a filosofia moderna muitas vezes perde, é a idéia do ação real. Epiteto dizia: “Podemos ser fluentes em sala de aula, mas nos leve para fora, para a realidade, e nos mostramos verdadeiros náufragos“. A filosofia não pode ser apenas uma teoria, não pode ser apenas falar, também tem ter prática. Sêneca dizia: “O estóico vê toda a adversidade como treinamento”.

Não seja um náufrago. Escolha ser um guerreiro e sair para praticar sua filosofia.


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Princípio Estoico #4: Separe as coisas como sendo boas, ruins e indiferentes

“Sobre as coisas: algumas são boas, algumas são ruins, e algumas são indiferentes. as Boas, então, são virtudes, e as coisas que participam das virtudes, as Más são contrárias, e as indiferentes são a riqueza, a saúde, a reputação”.   Epiteto – Discursos (II.9)

Os estoicos distinguiam coisas como sendo “boas”, “más” e “indiferentes”.

As coisas boas incluem as virtudes cardeais sabedoria,  justiçacoragem e autodisciplina.  As coisas ruins incluem os opostos dessas virtudes, a saber, os quatro vícios: ignorânciainjustiçacovardia e indulgência. As coisas indiferentes incluem todo o resto. São externas.

Agora, o que mais impressiona é o fato de que as coisas tidas como indiferentes pelo estoicismo são exatamente o que as pessoas hoje em dia julgam como boas ou más. No entanto, essas coisas indiferentes não ajudam nem prejudicam nosso desenvolvimento. Elas não desempenham um papel necessário à Vida Feliz. A indiferença não significa frieza. Ser indiferente às coisas indiferentes não significa não fazer diferença entre elas, mas aceitá-las como são.

Mas ser saudável é melhor do que ficar doente, certo?

Sim. Embora as coisas indiferentes não possam realmente ser “boas”, algumas são mais valiosas do que outras e preferíveis a elas. Portanto, os estóicos diferenciaram coisas indiferentes “preferidas” e “despreferidas“. É uma interpretação bastante lógica. As coisas positivas e indiferentes, como boa saúde, amizade, riqueza e boa aparência, foram classificadas como indiferentes preferenciais, enquanto seus opostos eram indiferentes despreferidos.

As pessoas sempre preferem a alegria sobre a dor, a riqueza sobre a pobreza e a boa saúde sobre a doença – então vá em frente e procure por essas coisas, mas não quando isso põe em perigo a sua integridade e virtude. Em outras palavras, é melhor suportar a dor, a pobreza ou a doença de maneira honrosa do que buscar alegria, riqueza ou saúde de forma vergonhosa.

Sêneca diz em sua carta 82:

“Eu classifico como ‘indiferente’ – ou seja, nem o bem nem o mal – a doença, a dor, a pobreza, o exílio, a morte. Nenhuma dessas coisas é intrinsecamente gloriosa; mas nada pode ser glorioso além delas. Pois não é a pobreza que louvamos, é o homem a quem a pobreza não pode humilhar ou dobrar. Nem é o exílio que louvamos, é o homem que se retira para o exílio no espírito em que teria enviado outro para o exílio. Não é a dor que louvamos, é o homem a quem a dor não coagiu. Ninguém elogia a morte, mas o homem cuja alma a morte tira antes que possa amaldiçoa-la.  Todas estas coisas não são em si nem honradas nem gloriosas; mas qualquer uma delas que a virtude tem visitado e tocado é feita honrada e gloriosa pela virtude; elas se limitam ao meio, e a questão decisiva é apenas se a maldade ou a virtude tem sobrepujado sobre elas. Por exemplo, a morte no caso de Catão é gloriosa.” (Carta 82. 10-12).

O único bem é a virtude, que está em nosso encargo. O único mal é o vício, que também está em nosso encargo. Tudo o mais é indiferente  porque não depende de nós. Portanto, não é o que você tem ou não tem, mas o que você faz com isso que importa. O que conta são suas ações. É tudo o que você controla.

(imagem A escolha entre a Virtude e o Vício por Frans Francken)


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Princípio Estoico #3: Concentre-se no que pode controlar, aceite o que não pode

“Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o desejo, a repulsa –em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos –em suma: tudo quanto não seja ação nossa. ” Manual de Epicteto [1.2]

Esta passagem é encontrada logo no início do Enchirídion de Epicteto, porque é fundamental para os ensinamentos da Filosofia Estoica. É denominada “dicotomia estoica do controle“, o princípio mais característico do estoicismo. Devemos distinguir cuidadosamente o que é “nosso encargo“, ou seja, algo sob nosso próprio poder, e o que não é. São nosso encargo nossas escolhas voluntárias, a saber, nossas ações e julgamentos, enquanto todo o resto não está sob nosso controle. O artigo “O que são coisas indiferentes no estoicismo de Epicteto e qual a atitude correta diante delas
por Aldo Dinucci, tradutor do manual, é muito clarificador.

Até nosso corpo não depende de nós, ou pelo menos não inteiramente. Sim,  há muitas coisas que podemos fazer para obter um corpo saudável e atraente. Mas isso só é possível até certo ponto. Podemos controlar nossas ações e manter uma dieta saudável, exercitar sistematicamente e sermos ativos, mas não temos controle sobre outras coisas, como genes e fatores externos, como doenças e lesões .

Só controlamos nossas próprias ações e temos que aceitar o resultado com equanimidade. Teremos satisfação e confiança de saber que estamos fazendo o melhor e tentando tudo o que estiver ao nosso alcance para atingir nosso objetivo. Então,  podemos aceitar o resultado porque fizemos nosso melhor. Se o resultado não é satisfatório, devemos aceitá-lo facilmente e dizer: “Bem, eu fiz o meu melhor”.

Os estoicos usam a Analogia do Arqueiro para explicar isso:

Um arqueiro está tentando atingir um alvo. Ele tem uma série de coisas sob seu controle, como o treinamento, qual arco e flecha usar, quão bem apontar e quando soltar a flecha. Então ele pode fazer o seu melhor até o momento em que a flecha deixa seu arco.

Agora, ele atingirá o alvo?

Isso não depende dele. Afinal, uma rajada de vento, um movimento súbito do alvo, ou algo pode entrar entre a flecha e o alvo. E o arqueiro estoico está pronto para aceitar todos os resultados possíveis com tranquilidade, porque ele fez o seu melhor e deixou o resto (o que ele não podia controlar) para a natureza.

Massimo Pigliucci coloca em seu livro How to Be a Stoic:

“Este é precisamente o poder do estoicismo: a internalização da verdade básica que podemos controlar nosso comportamento, mas não os seus resultados – e muito menos os resultados dos comportamentos de outras pessoas – o que leva à aceitação tranquila do que acontece, assegurando o conhecimento de que nós fizemos o nosso melhor, tendo em conta as circunstâncias”.

E o que sempre podemos tentar o nosso melhor? viver de acordo com a virtude. Sim, podemos sempre tentar aplicar a razão, atuar com coragem, tratar com justiça e exercitar a moderação.

Vejamos um dos exercícios práticos recomendado por Epicteto:

“Faça uma prática dizer a todas as impressões fortes: ‘Uma impressão é tudo o que você é’. Em seguida, teste e avalie com seus critérios, mas um principalmente: pergunte: ‘Isso é algo que está ou não está sob meu controle?’ E se não é uma das coisas que você controla, diga: ‘Então não é minha preocupação’.  Epicteto – Discursos (II.18)

Se é seu encargo, então faça algo sobre isso, se não, aceite como está.

As coisas que dependem de você, ou seja seus pensamentos e ações, são as coisas mais importantes. Donald Robertson disse isso bem em seu livro Estoicismo e Arte da Felicidade:

“A conclusão filosófica de que o principal bem, o mais importante na vida, deve necessariamente ser aquilo que está a “nosso encargo” é ao mesmo tempo o aspecto mais difícil e mais atraente do estoicismo. Isso nos torna completamente e totalmente responsáveis pela nossa vida, privando-nos de desculpas para não florescer e alcançar a melhor vida possível, porque isso está sempre ao nosso alcance “.

Então, a lição chave para tirar aqui é concentrar nossa atenção e esforços onde temos mais poder e deixar o universo cuidar do resto.


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Princípio Estoico #2: Viva pela Virtude

Alcançar a “virtude” é o bem mais elevado.

O que os estoicos denotavam como “virtude” era sobressair ou florescer em termos de nossa natureza humana racional. Basicamente, quando você vive de acordo com a virtude, você está vivendo a Boa Vida. Essa excelência humana se dá em diferentes formas de virtude destacada nas quatro virtudes cardeais:

  • Sabedoria prática: a habilidade de navegar situações complexas de forma lógica, informada e calma;
  • Autodisciplina ou Temperança: o exercício de autorrestrição e moderação em todos os aspectos da vida;
  • Justiça: tratar outros justamente mesmo quando fazem algo errado;
  • e Coragem: não só em circunstâncias extraordinárias, mas ao encararmos desafios diários com claridade e integridade.

Quando agimos de acordo com essas virtudes, caminhamos para a Boa Vida. No sentido estoico, você só pode ser virtuoso se praticar todas as virtudes. A virtude é um pacote tudo-ou-nada e somente um Sábio as têm completamente. É importante entender que o conceito “sábio” para os filósofos antigos é um ideal a ser atingido, e não alguém real. Segundo Sêneca o sábio se equivale aos deuses, com a única distinção do sábio ser humano e mortal.

Para os estóicos, é indiscutível que a virtude deva ser sua própria recompensa. Você faz algo porque é a coisa certa a fazer. Você age virtuosamente por sua própria causa.  Às vezes, agir de acordo com a virtude traz benefícios adicionais,  no entanto, esses benefícios devem ser interpretados como “bônus adicional” e não podem ser o principal motivo da ação.

(Imagem: Escolha de Hercules entre a Virtude e Vício por Pelagio Pelagi)

 


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Princípio Estoico #1: Viver de acordo com a natureza – O objetivo estoico de vida

O objetivo derradeiro da vida de acordo com todas as escolas de filosofia da Grécia antiga é a Eudaimonia. Pense nisso como sendo suprema felicidade ou realização alcançável por seres humanos. A Boa Vida – uma vida prospera, elevada e fluindo em harmonia.

O objetivo da vida = A Boa Vida. Como viver para atingir a “Boa Vida”?

Os estoicos apresentaram muitas estratégias práticas para avançar para a Boa Vida. Examinaremos estratégias e ideias específicas nos próximos princípios. Primeiro, vamos aprender como os estoicos resumiram o objetivo de vida:

“Viver de acordo com a natureza”

Viver de acordo com a natureza” era um slogan central do estoicismo, mas requer uma explicação adicional, uma vez que levanta a questão: “O que exatamente isso significa?” Epiteto dizia:

“Então, o que é um Homem? Um animal racional, sujeito à morte. Perguntamos, de que o elemento racional nos distingue? De bestas selvagens. E de que mais? De ovelhas e similares. Atente-se para que você não faça nada como uma fera, senão você destruirá o Homem em você e não atingirá seu potencial. Veja que você não haja como uma ovelha, ou então o Homem em você perece.
Você pergunta como agimos como ovelhas?
Quando consultamos a barriga ou as nossas paixões, quando nossas ações são aleatórias ou obscenas ou irrefletidas, não estamos caindo para o estado das ovelhas? O que destruímos? A faculdade da razão. Quando nossas ações são agressivas, prejudiciais, irritadas e grosseiras, não decaímos e nos tornamos animais selvagens?”

O ser humano é um animal racional. Isso é o que nos separa de ovelhas e bestas selvagens. Nós somos diferentes de todas as outras espécies no planeta Terra, tanto para o bem como para o mal. O ponto central é nosso intelecto, nossas habilidades sociais e mentais.

“Viver de acordo com a natureza” trata-se de se comportar de forma racional como um ser humano, ao invés de aleatoriamente (ou por paixão e desejos) como uma fera. Em outras palavras, sempre devemos aplicar nossa habilidade natural da “razão” em todas as nossas ações. Se aplicarmos a razão viveremos de acordo com a natureza, agindo como seres humanos devem agir.

(imagem, Olivia Beaumont | The Baroque Beasts)


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“indiferentes preferidos”

De todos os conceitos da filosofia estóica, “indiferente” é o que causa mais confusão e dúvida. Marco Aurélio, Sêneca e Epiteto cada um nos diz que o estoico é indiferente às coisas externas, indiferente à riqueza, indiferente à dor, indiferente ao lucro, indiferente à esperança, sonhos e tudo mais. A primeira vista começa a parecer que um estoico não se importa com nada. Mas isso é uma interpretação enganosa.

O entendimento correto é outro. Devemos saber valorizar e aproveitar as coisas boas, porém sempre entendendo que coisas não importam. Sêneca, dizia que é melhor ser rico do que pobre, alto do que baixo, saudável do que doente. Mas essas coisas não são fundamentais. São “indiferentes preferidos“. O ponto é ser forte o suficiente para que não haja necessidade de precisar de coisas em uma direção particular. Devemos ser indiferentes quanto as cartas que o destino nos dá .

Os estoicos diferenciam coisas como “boas“, “más” e “indiferentes“.

As coisas boas incluem as virtudes cardeais sabedoria, justiça, coragem e autodisciplina. As coisas ruins incluem os opostos dessas virtudes, a saber, os quatro vício: ignorância, injustiça, covardia e indulgência.

As coisas indiferentes incluem todo o resto. Estão externas.

Agora, o que mais impressiona é o fato de que as coisas tidas como indiferentes pelo estoicismo são exatamente o que as pessoas hoje em dia julgam como boas ou más. No entanto, essas coisas indiferentes não ajudam nem prejudicam nosso desenvolvimento. Elas não desempenham um papel necessário à Vida Feliz.

Temos a capacidade de sermos bons e felizes de qualquer maneira, em qualquer circunstância.

Pensamento do Dia #26: Imagine que aconteceu com outro

“Quando um amigo quebra uma taça, dizemos rapidamente: ‘Oh, muito chato‘, mas essas coisas acontecem. Porém quando quebramos uma taça, ficamos aborrecidos. Precisamos aceitar o que nos acontece com o mesmo espírito que esperamos que os outros aceitem a sorte deles.

Podemos aplicar esse entendimento a coisas mais graves. Quando o cônjuge ou filho de outra pessoa morre, comumente dizemos: ‘Bem, isso é parte da vida‘. Mas quando um dos nossos membros da família está envolvido, dizemos: ‘Pobre de mim. Porque é que isto me aconteceu?’

Lembre-se de quão sabiamente você aceita quando outros enfrentam situações infelizes. Aplique a mesma sabedoria quando algo infeliz acontece com você. Aprenda a aceitar o que quer que aconteça. ” ( O Manual de Epiteto, 26) 

A maioria das pessoas é melhor em dar aos outros conselhos do que são em se dar conselhos. O ensinamento de Epiteto é uma técnica psicológica que pode ser usada em nossas vidas diárias. Aconselhe-se como se estivesse aconselhando um amigo. Tente separar-se da irracionalidade de suas paixões e imaginar-se a falar com um amigo que experimenta os mesmos sentimentos. O que você diria a ele? Como você esperaria que o ouça?

(imagem – Caveira e taça quebrada por Hendrick Andriessen)

Pensamento do Dia #25: Sobre a Brevidade da Vida

Veja todas as coisas que acontecem ao seu redor. O vizinho cuja casa é roubada. O amigo que adoece. O casamento sólido que termina em divórcio. O país anteriormente pacífico que entra em guerra civil, seus cidadãos desesperados fugindo por suas fronteiras como refugiados.

No ensaio “Sobre a Brevidade da Vida“, Sêneca enumera os muitos infortúnios que observou ao longo do tempo: os lamentos de seus vizinhos em luto, amigos mortos em batalha, carreiras políticas ascendentes que acabaram em ignomínia ou exílio. Todos esses destinos que ele descreve, passaram diante dele no decorrer da vida. “Eu deveria me surpreender“, pergunta ele, “se os perigos que sempre vagaram sobre mim possam chegar a mim em algum momento?

A resposta é não. O que pode acontecer com outra pessoa pode acontecer com você. Hoje. Amanhã. No futuro. Você está pronto para isso? Você enfrentou essa possibilidade? Ou você ainda está fingindo que você é especial e livre da sorte?

De fato, muitas dessas mesmas tragédias aconteceram com Sêneca. Ele foi exilado. Ele perdeu um filho. Ele foi acusado de conspirar contra o Imperador. E, em sua maior parte, ele respondeu a esses infortúnios com bravura e coragem. Porque ele se preparou para eles. Porque ele assistiu ao desfile e sabia que seria exigido que se juntasse eventualmente.

O mesmo é verdade para você. Esteja pronto.

( Sêneca, “Sobre a Brevidade da Vida“,  Imagem – Vanitas por Philippe de Champaigne)