Dia das Mães: Carta de Sêneca a sua mãe Hélvia

Neste dia das mães voltamos a comentar a carta de consolação enviada por Sêneca a sua mãe.

Nesta carta vemos como Sêneca, ao contrário do costume romano, incentiva também as mulheres a estudarem filosofia:

“Por isso incito-lhe a procurar refúgio onde todos os que procuram conforto para suas mágoas deviam refugiar-se: nos estudos da filosofia. Ela saberá sarar sua ferida, arrancando de você toda queixa.  Oh! se meu pai, que era o melhor dos homens, mas estava demasiadamente preso aos costumes dos antepassados, tivesse desejado que você fosse ensinada ao invés de informada somente dos preceitos da sabedoria! Agora, contra os golpes da fortuna, precisaria não procurar auxílios mas servir-se dos que teria. Mas meu pai não quis que você seguisse sua inclinação para esses estudos por causa das mulheres que se servem da cultura não para tirar regras de sabedoria e sim para enfeitar-se com ela como com custosa joia. Todavia, graças à sua pronta inteligência, assimilou mais que quanto pudesse fazer supor o tempo dedicado à cultura: já lançou os alicerces de toda disciplina. Volte para ela, agora: ela lhe protegerá. Ela lhe consolará” (Consolação a Minha Mãe Hélvia XVII, 4-5)

(imagemSarcófago de Marcus Cornelius Statius ,Louvre)

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Como iniciar o estudo do estoicismo

Acredito que a melhor forma de conhecer o estoicismo é ler os clássicos: Epicteto, Sêneca,  Marco Aurélio, Catão e Cícero. Destes, Sêneca é a leitura mais fácil. O livro “Estoicismo” de George Stock é uma envolvente explicação do estoicismo clássico.

Muitos preferem iniciar o estudo lendo textos contemporâneos, nesse caso sugiro ler  William Irvine,  Massimo PigliucciPatrick UssherRyan Holiday este último criticado como “auto-ajuda”.

Uma sugestão é rever os princípios estoicos nas postagens abaixo, e então se aprofundar nas leituras indicadas.

Princípios Estoicos:


Livros recomendados: 

Clássicos:

         

        

     

        

     

       

        

Contemporâneos:

     

     

Conheça a Montecristo Editora. Conheça a versão em inglês: The Stoic Letters

Pensamento do Dia #28: Trabalho e Prazer

“Quando eu ainda era um menino na escola, ouvi dizer esse ditado grego, e como o sentimento é verdadeiro e marcante, bem como nítido e redondo, eu fiquei muito feliz em memorizá-lo. “Se alguém realiza algum bem embora com trabalho, a labuta passa, mas o bem permanece; se alguém faz algo desonroso com prazer, o prazer passa, mas a desonra permanece“.

Depois, li esse mesmo sentimento em um discurso de Catão, que foi proferido em Numantia. Embora se expresse de forma um pouco menos compacta e concisa, em comparação com o grego que citei, mas por ser anterior e mais antigo, pode parecer mais impressionante. As palavras de seu discurso são as seguintes: “Considere isto em seus corações: se você realizar algum bem acompanhado com trabalho, a labuta rapidamente deixará você; mas se você fizer algum mal acompanhado com prazer, o prazer passará rapidamente, mas a má ação permanecerá com você sempre“.

Fragmento 51 de Musonio Rufo. Professor de Epiteto.

(imagem Gravura de 1886 – Liteira Romana)

 

 

Princípio Estoico #6: Pratique o Infortúnio – Pergunte-se “O que poderia dar errado?”

Existe o conhecido problema da Adaptação Hedônica,  a tendência observada nas pessoas para regressar rapidamente a um nível relativamente estável de felicidade apesar da ocorrência de importantes acontecimentos positivos ou negativos.

Os estoicos usavam uma ferramenta mental para evitar tal situação, “vacinando” suas mentes contra infortúnios. Eles se prepararam para coisas ruins que pudessem acontecer. Os romanos chamavam de “premeditatio malorum“. Premeditação da adversidade.

William Irvine descreve a solução como “a técnica mais valiosa no conjunto de ferramentas dos estoicos” e a chamou de “visualização negativa“:

“Os estoicos pensaram que tinham uma resposta a esta pergunta. Eles recomendaram  imaginar que perdemos as coisas que valorizamos – que nossa esposa nos deixou, nosso carro foi roubado ou perdemos nosso trabalho. Fazendo isso, os estoicos pensavam, nos fariam valorizar nossa esposa, nosso carro e nosso trabalho. Esta técnica – referimos a ela como visualização negativa – foi empregada pelos estoicos desde Crísipo. É, penso eu, a técnica mais valiosa no kit de ferramentas psicológicas dos estóicos. (A Guide to the Good Life)

Tal prática traz dois benefícios:

  1. Satisfação com o que já temos;
  2. Preparação para adversidades futuras;

Esteja pronto para que as coisas aconteçam de forma diferente do planejado. Tenha um plano alternativo.

Nada acontece com o homem sábio contra suas expectativas.” – Sêneca

Eu deveria me surpreender“, pergunta Sêneca, “se os perigos que sempre vagaram sobre mim possam chegar a mim em algum momento?” (Sobre a Brevidade da Vida)

Assolação – esse sentimento de estarmos absolutamente esmagados e arruinados por um evento – é um fator de quão pouco nós consideramos esse evento em primeiro lugar” – (  The Daily Stoic – Ryan Holiday)

O homem sábio prepara-se mentalmente. Nada pode acontecer que ele não tenha visto chegar. A premeditação da adversidade não faz com que tudo seja indolor e fácil de suportar. Mas isso nos ajuda a não entrar em pânico quando o problema acontece. Podemos enfrentar a adversidade com calma, analisá-la de forma racional e decidir tomar uma ação inteligente.

Experimente agora. O que você está planejando fazer nos próximos dias? O que poderia dar errado?

(Fortuna Marina por Frans Francken, A deusa romana Fortuna distribui aleatoriamente seus favores)


Princípios Estoicos:


 

Livros Citados:

         

Princípio Estoico #5: Tome ação

Vimos nos princípios anteriores que a maioria das coisas não está sob nosso controle e que devemos aborda-las com indiferença. Então, podemos descansar, não fazer nada e não se importar com  nada?

Não e não.

Nas palavras de Donald Robertson, “Os eventos não estão determinados a acontecer de forma particular, independentemente do que você faz, mas sim junto com o que você faz … O resultado dos eventos ainda depende das suas ações. O verdadeiro filósofo, um guerreiro da mente“. (Stoicism and the Art of Happiness)

Você controla suas ações. Os estoicos não eram indiferentes às suas próprias ações. Uma vez que queriam viver de acordo com a virtude para chegar à vida eudaimônica, eles deveriam  “fazer a coisa certa”. Sempre.

Sim, o estoicismo é uma filosofia de vida prática. Para os estoicos, não basta pensar em como viver a própria vida, mas realmente sair ao mundo e praticar suas ideias.

Outra coisa que os estóicos entendiam, que a filosofia moderna muitas vezes perde, é a idéia do ação real. Epiteto dizia: “Podemos ser fluentes em sala de aula, mas nos leve para fora, para a realidade, e nos mostramos verdadeiros náufragos“. A filosofia não pode ser apenas uma teoria, não pode ser apenas falar, também tem ter prática. Sêneca dizia: “O estóico vê toda a adversidade como treinamento”.

Não seja um náufrago. Escolha ser um guerreiro e sair para praticar sua filosofia.


Princípios Estoicos:

“indiferentes preferidos”

De todos os conceitos da filosofia estóica, “indiferente” é o que causa mais confusão e dúvida. Marco Aurélio, Sêneca e Epiteto cada um nos diz que o estoico é indiferente às coisas externas, indiferente à riqueza, indiferente à dor, indiferente ao lucro, indiferente à esperança, sonhos e tudo mais. A primeira vista começa a parecer que um estoico não se importa com nada. Mas isso é uma interpretação enganosa.

O entendimento correto é outro. Devemos saber valorizar e aproveitar as coisas boas, porém sempre entendendo que coisas não importam. Sêneca, dizia que é melhor ser rico do que pobre, alto do que baixo, saudável do que doente. Mas essas coisas não são fundamentais. São “indiferentes preferidos“. O ponto é ser forte o suficiente para que não haja necessidade de precisar de coisas em uma direção particular. Devemos ser indiferentes quanto as cartas que o destino nos dá .

Os estoicos diferenciam coisas como “boas“, “más” e “indiferentes“.

As coisas boas incluem as virtudes cardeais sabedoria, justiça, coragem e autodisciplina. As coisas ruins incluem os opostos dessas virtudes, a saber, os quatro vício: ignorância, injustiça, covardia e indulgência.

As coisas indiferentes incluem todo o resto. Estão externas.

Agora, o que mais impressiona é o fato de que as coisas tidas como indiferentes pelo estoicismo são exatamente o que as pessoas hoje em dia julgam como boas ou más. No entanto, essas coisas indiferentes não ajudam nem prejudicam nosso desenvolvimento. Elas não desempenham um papel necessário à Vida Feliz.

Temos a capacidade de sermos bons e felizes de qualquer maneira, em qualquer circunstância.

Pensamento do Dia #24: Cícero – De Finibus

“Se um homem tem o propósito de acertar uma lança ou uma flecha em um alvo, seu derradeiro objetivo seria fazer tudo o que pudesse para mirar o melhor possível e atirar com firmeza. O homem nesta ilustração teria que fazer tudo para apontar corretamente, no entanto, embora ele fizesse tudo para alcançar seu propósito, seu ‘objetivo final‘, por assim dizer, seria o que corresponde ao que chamamos de Bem Principal na conduta da vida, enquanto que atingir o alvo seria na nossa terminologia ‘indiferente’“. (CiceroDe Finibus Bonorum et Malorum , 3.22 “Sobre a Finalidade do Bem e do Mal“)

O que está explicando aqui é um aspecto crucial da doutrina estoica: só se pode trabalhar sobre o que está sob seu controle (mirar a flecha, da melhor forma possível), mas deve-se aceitar o resultado (a flecha atingir ou não o alvo), porque isso não está sob nosso controle.

(imagem – primeira página de versão latina da obra)

Pensamento do Dia #16: Sobre Temores infundados. (Carta 13)

“O que eu aconselho você a fazer é, não ser infeliz antes que a crise chegue; pode ser que os perigos, que o empalidecem como se estivessem o ameaçando agora, nunca cheguem sobre você. Assim, algumas coisas nos atormentam mais do que deveriam; algumas nos atormentam antes do que deveriam; e algumas nos atormentam quando não deveriam nos atormentar nunca. Temos o hábito de exagerar, imaginar, antecipar, a tristeza.

A mente às vezes modela para si as formas falsas do mal, quando não há sinais que apontem para algum mal; interpreta da pior forma alguma palavra de significado duvidoso; ou imagina algum rancor pessoal ser mais sério do que realmente é. Mas a vida não vale a pena ser vivida, e não há limites para nossas dores, se entregarmos nossos medos ao máximo possível; neste assunto, deixe a prudência ajudá-lo, e despreze o medo com um espírito resoluto mesmo quando ele está à vista. Se você não pode fazer isso, combata uma fraqueza com outra, e tempere o seu medo com esperança. Não há nada tão certo nesse assunto de medo como as coisas que tememos darem em nada e que as coisas as quais esperamos zombarem de nós.”

(SênecaCarta 13. Sobre Temores infundados )