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Filosofia atual e prática
Texto muito bom, indicado por um leitor da página.
https://otambosi.blogspot.com/2024/10/estoicismo-o-bom-o-mau-e-o-indiferente.html
Segue tradução livre:
Hoje, milhões de pessoas se declaram estoicas: esportistas, políticos e empresários… Dependendo de como é apresentado, o estoicismo pode parecer uma filosofia sábia e sensata ou cruel e resignada. Daniel Tubau via Ethic:
Conta-se que, em certa ocasião, o escravo Epicteto pediu ao seu professor Musonius Rufus que intercedesse junto ao seu senhor para que parasse de maltratá-lo. Musonius respondeu com uma pergunta: “O que é isso? Musonius respondeu com uma pergunta: “Devo perguntar a ele se posso obter o mesmo de você? Pois é inútil esperar de outro o que se tem para si mesmo”. Epicteto, que sempre se referia a seu professor como “querido Rufus”, lembrou-se dessa lição como um passo decisivo em seu caminho para a indiferença, para o controle das emoções e das paixões. Se seu senhor o maltratava não dependia do próprio Epicteto, mas se ele era indiferente ao maltrato, dependia dele.
Para muitos, essa história é um exemplo magnífico do poder do estoicismo. Para outros, a anedota mostra os problemas do estoicismo dogmático levado ao extremo. É difícil não pensar que Musonius Rufus, que, em vez de ajudar a aliviar a dor física de seu aluno, foi descompromissado, comportou-se de forma tão cruel quanto o mestre de Epicteto. Um estoico responderá que não entendemos sua filosofia e que conceitos como “crueldade” ou “dor física” são apenas emoções, e que aqueles que se preocupam apenas com o que é seu não estão sujeitos a esses altos e baixos emocionais.
Hoje, milhões de pessoas se declaram estoicas: esportistas, políticos e empresários como Jack Dorsey, fundador do Twitter, ou Elon Musk, atual dono da rede social, além de celebridades como Arnold Schwarzenegger ou Angelina Jolie… Todos eles encontram no estoicismo do escravo Epicteto, do imperador Marco Aurélio ou de Sêneca a resposta para suas perguntas mais inquietantes: como devemos viver, como devemos lidar com a frustração e a dor, como devemos nos relacionar com os outros?
Não é fácil descobrir as razões da popularidade do estoicismo, que surgiu repentinamente, depois de décadas descansando nos bastidores da história. […]
Uma das razões foi, sem dúvida, a crise de 2008 e a sensação de incerteza que começou a tomar conta de milhões de pessoas em todo o mundo. Isso levou à multiplicação de livros de autoajuda e à busca de formas individuais de salvação, já que a confiança nas instituições foi perdida. A inquietação aumentou com a pandemia, que se abateu sobre a humanidade como um castigo incompreensível. É uma situação que pode ser comparada à do Império Romano na época de Sêneca e Epicteto, e até mesmo durante o governo do estoico Marco Aurélio, que, apesar de ser o último dos “bons imperadores”, viveu em uma sociedade desiludida, onde floresceram religiões e filosofias que ofereciam não apenas sabedoria, mas também, e acima de tudo, salvação.
Sejam quais forem as razões de sua popularidade atual, o estoicismo é, pelo menos à primeira vista, a filosofia clássica que oferece as respostas mais rápidas e, de certa forma, mais convincentes. Tem muitas frases brilhantes, anedotas substanciais que misturam imperadores e escravos com bilionários condenados ao suicídio, como Sêneca, e algumas fórmulas quase mágicas para sair de problemas sem a necessidade de ferramentas, dinheiro ou ajuda externa, já que sua alegação básica é que nossa serenidade e paz de espírito dependem inteiramente de nós e não do mundo exterior.
O caminho para a serenidade nos é mostrado por Epicteto nos primeiros capítulos do Manual: há coisas que dependem de nós mesmos e coisas que não dependem de nós mesmos. Não depende de nós o que os outros fazem ou pensam. Embora possamos obviamente tentar influenciar seu comportamento, o resultado final será o que eles escolherem fazer ou pensar. Também não depende de nós o fato de chover, nevar ou fazer muito calor. Não depende de nós se vamos a uma festa e um bêbado nos incomoda, se alguém joga uma bebida em nós ou se somos pisoteados ou empurrados.
Tudo isso não depende de nós. Mas o que depende de nós é como reagimos a qualquer uma dessas circunstâncias. O que está totalmente sob nosso controle, em última análise, são nossas emoções. Assim, quando seu mestre aplicou uma máquina de tortura em sua perna, Epicteto, talvez se lembrando do conselho de Musonius Rufus, simplesmente o advertiu: “Você vai quebrá-la”. Até que um dia, de fato, seu mestre quebrou a perna, e Epicteto disse calmamente: “Eu lhe disse que você a quebraria.
Dependendo de como o apresentamos, o estoicismo pode parecer uma filosofia sábia e sensata ou cruel e resignada. […]
Este texto é um trecho do “Manual de Vida Estoica” de Epicteto, reinterpretado por Daniel Tubau (Editorial Rosameron, 2024).
Ter uma visão política de esquerda ou direita são formas diferentes de buscar soluções dos problemas sociais.
O Estoico não se identifica em nada com a esquerda, acreditando que apesar de prometer muito entrega pouco, ainda mais quando suas teses são aplicadas em países corruptos. Exemplos não faltam na sofrida América Latina.
Dito isso, é importante debater as diferenças, assim crescemos e evoluímos e possibilita-se chegar a um ponto médio satisfatório.
Contudo, votar ou defender Lula não é esquerda ou direita. É simplesmente imoral. Defender Ladrão condenado em 3 instâncias que em 14 anos à frente do governo instituiu verdadeiro projeto de poder baseado em corrupção é falta de caráter.
Existem outros candidatos de esquerda.
Finalizo com uma citação de Sêneca, nos trazendo à realidade, que no fundo, tudo isso pouco importa:
“…os partidos são convocados e os candidatos estão fazendo oferendas em seus templos favoritos – alguns deles prometendo brindes em dinheiro e outros fazendo negócios por meio de um agente, ou desgastando as mãos com os beijos desses a quem eles recusarão o mínimo toque depois de serem eleitos, você não acha agradável, eu digo, ficar em paz e olhar para esta feira de vaidades sem comprar ou vender?
4. Quão grande alegria se sente quem olha sem preocupação, não apenas para a eleição de um pretor ou de um cônsul, mas para essa grande luta em que alguns procuram honras efêmeras e outros o poder permanente.”
(Sêneca , Carta CXVIII. Sobre a Futilidade da busca de Cargos, 3-4 )
Com o desfecho do julgamento, Johnny Depp divulgou uma carta, que para minha surpresa termina com uma citação de Sêneca, em latim:
“Veritas nunquam perit” ou “A Verdade Nunca Morre“, tirada da peça As Troianas.
Apesar dele não ser nenhum estoico, abusando de álcool e drogas, a carta de Depp tem conteúdo bastante de estoico, onde o ator explica sua motivação para expor sua vida pessoal em busca da verdade:
“Desde o início, o objetivo de apresentar este processo era revelar a verdade, independentemente do resultado” (“From the very beginning, the goal of bringing this case was to reveal the truth, regardless of the outcome.”)
Para os romanos, o mês de janeiro tinha um significado especial. Seu nome derivava da divindade de duas faces, Jano, o deus da mudança e dos começos.
Jano era visto como olhando simbolicamente para o velho e para o novo, sendo que esta concepção era vinculada ao conceito de transição de um ano para o próximo.
Os romanos celebravam o dia 1º de janeiro fazendo oferendas a Jano, na esperança de receber boa sorte no novo ano. Este dia era considerado como o prognóstico para os doze meses seguintes, e era comum que amigos e vizinhos trocassem felicitações e presentes, como figos e mel uns com os outros. Segundo o poeta Ovídio, a maioria dos romanos também adotavam trabalhar pelo menos durante parte do dia de ano novo, pois a ociosidade era vista como um mau presságio para o resto do ano.
E com este breve post, desejo a todos um Feliz e próspero Ano Novo.
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Texto de Aldo Dinucci, publicado originalmente no blog Estoicismo Artesanal.
“É sinal de incapacidade ocupar-se excessivamente com as coisas do corpo, tal como se exercitar muito, correr muito, beber muito, sair constantemente para aliviar-se, fazer sexo em demasia. É preciso fazer essas coisas como algo secundário: que a atenção esteja toda voltada para o pensamento.”
Epicteto, Manual, capítulo XLI em Tradução Aldo Dinucci
Comentário:
Diz-nos Aulo Gélio (Noites Áticas, III, XIX, ii, 7-8): “Sócrates costumava dizer que os homens desejam viver para comer e beber, mas ele comia e bebia para viver”. O Estoicismo reafirma essa posição socrática, segundo a qual fazer do prazer a razão do viver é pôr-se sob o domínio da externalidade. Porém, não há aí uma condenação do prazer: ele será bom se o humano usufrui-lo mantendo-se senhor de si mesmo. Além disso, muitas vezes será bom evitar certos prazeres para que o humano, fortalecendo-se, possa suportar determinados sofrimentos. Por exemplo: quem se habituar a uma alimentação requintada terá problemas quando precisar servir-se de alimentos simples; quem se habituar a ser transportado de lá para cá terá problemas quando precisar caminhar. A função do prazer será, como nos diz Epicteto, secundária: um refrigério que nos ajudará a viver (e não algo em razão do que devamos viver).
Cumpre notar que a própria razão nos diz que, às vezes, é preciso nos afastar dela. O ideal de homem do estoicismo não é um monge de pedra, não é monge algum, mas é um homem integralmente forte, um guerreiro que luta com as armas da razão buscando sua felicidade e, através dela, a felicidade dos demais. Mas o filósofo-guerreiro tem de descansar no intervalo das lutas. Sem isso, tornar-se-á um escravo da própria razão. E, como a sabedoria não admite ninguém como escravo, ela mesma nos ensina sobre a necessidade de buscarmos de quando em vez o devaneio e o descanso. Quanto a isso, diz-nos Sêneca (Da Tranquilidade da Alma, xvii):
[4] Não se deve manter a mente igualmente na mesma intensidade (tensão), mas deve-se distrai-la com jogos e brincadeiras. Sócrates não enrubescia quando brincava com crianças… [5] Deve-se dar descanso aos espíritos; repousados, se levantam melhores e mais agudos. Do mesmo modo que não se deve exigir fertilidade à terra —pois, nunca repousando, sua fecundidade rapidamente se exauriria ,— assim também o assíduo labor despedaça o ímpeto dos espíritos, que receberiam forças tendo relaxado e descansado; nasce da constância dos trabalhos dos espíritos um certo entorpecimento e langor… [8] Deve-se ser indulgente com o espírito e dar-lhe de vez em quando tempo livre que lhe conceda espaço para se alimentar e se fortalecer. E deve-se deixá-lo vagar em espaços abertos, para que o espírito se eleve e se estenda no céu aberto e no ar pleno; [10] pois ou acreditamos no poeta grego Menandro, que nos diz que ‘De vez em quando é agradável enlouquecer,’ ou em Platão, que nos diz que ‘Em vão bateu às portas da poesia quem estava senhor de si mesmo’ (Fedro, 222, 245 a), ou em Aristóteles, que nos diz que ‘Não existe grande gênio sem mescla de loucura’. (Tradução do latim: Aldo Dinucci)
“Uma pessoa imatura culpa os outros o mal que lhe acontece; uma pessoa que começou a amadurecer culpa a si mesmo; mas uma pessoa madura não culpa nem o outro nem a si mesmo” – Epicteto
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Na Carta 97 Sêneca aborda um tema recorrente em todas as eras: pessoas maduras tendem a acreditar que o passado era melhor e mais íntegro, e que os jovens estão degenerados e equivocados. Mas Sêneca diz que não é nada disso pois essa negligência aos bons costumes são “vícios da humanidade e não dos tempos“.
Ele narra o caso de um político corrupto, Públio Cloto, que escapou da punição subornando e chantageando juízes com dinheiro e sexo, isso na presença de Catão, símbolo moral para Sêneca. Comparando com a política recente teremos mais uma prova da degeneração ser uma característica da humanidade, não dos tempos.
A carta é interessante também pois narra os rituais da Bona Dea (“Boa Deusa”) e da Floralia, em honra à deusa Flora. Cita máximas de Epicuro, concordando em pontos e discordando de alguns detalhes: “Um criminoso pode ter a sorte de conservar-se oculto, mas não pode estar seguro de assim permanecer“.
A conclusão é que o criminoso, mesmo que escape da lei, jamais poderá escapar da própria consciência, e saber que cometeu crime será punição suficiente devido a culpa e a ansiedade de ser pego:
“Boa fortuna libera muitos homens do castigo, mas nenhum homem do medo. E por que seria assim, se não fosse enraizado em nós uma aversão por aquilo que a natureza condenou? Daí mesmo os homens que escondem seus pecados nunca podem contar com o fato de ficarem ocultos; pois suas consciências os convencem e revelam os crimes a si mesmo. Mas é propriedade da culpa ter medo. Ela nos faz doentes devido aos muitos crimes que escapam à vingança da lei e às punições prescritas para que as graves ofensas contra a natureza sejam pagas em dinheiro vivo e porque, em lugar de sofrer a punição, sofremos com o medo.” (XCVII, 16)
Imagem: O império da Flora por Giovanni Battista Tiepolo.
Saudações de Sêneca a Lucílio.
1. Você está enganado, meu querido Lucílio, se você acha que o luxo, a negligência aos bons costumes e outros vícios são especialmente característicos de nossa época. Não, são os vícios da humanidade e não dos tempos. Nenhuma era na história esteve isenta de culpa. Além disso, se você começar a levar em conta as irregularidades típicas a qualquer época particular, você encontrará – para a vergonha do homem – que o pecado nunca foi mais explícito do que na própria presença de Catão.
2. Alguém acreditaria que dinheiro mudou de mão no julgamento quando Clódio[1] foi acusado de adultério com a esposa de César, quando ele violou o mistério ritual[2] daquele sacrifício que se é oferecido em nome do povo, quando todos os homens são tão rigorosamente removidos do recinto, tanto que até imagens de todas as criaturas masculinas estão cobertas? E, no entanto, o dinheiro foi dado ao júri e, mais vil do que essa pechincha, crimes sexuais foram exigidos de mulheres casadas e jovens rapazes como uma espécie de contribuição adicional.
3. O crime denunciado envolveu menos pecado do que sua absolvição, pois o réu por adultério parcelou os adultérios e não tinha certeza de sua própria absolvição até ter feito dos jurados criminosos como ele. Tudo isso foi feito no julgamento em que Catão deu testemunho, embora essa fosse sua única participação. Vou citar as reais palavras de Cicero, porque os fatos são tão ruins quanto inacreditáveis:
4. “Ele distribuiu cargos, promessas, súplicas e presentes. E mais do que isso (Céus misericordiosos, que estado de coisas abandonado!) a vários jurados, para completar sua recompensa ele concedeu o gozo de certas mulheres e encontros com jovens nobres”.[3]
5. É supérfluo ficar chocado com o suborno pois as adições ao suborno foram piores. “Você tem interesse na esposa desse indivíduo austero, A.? Muito bom. Ou de B., o milionário? Eu garantirei que você possa se deitar com ela. Se você não cometeu adultério, condene Clódio. Essa beldade que você deseja deve visitá-lo. Garanto-lhe uma noite em companhia dessa mulher sem demora, minha promessa deve ser realizada fielmente dentro do prazo legal de pagamento”. É mais grave distribuir esses crimes do que os cometer; significa chantagear matronas dignas.
6. Estes jurados no julgamento de Clódio pediram ao Senado uma guarda – um favor que só seria necessário para um júri prestes a condenar o acusado; e seu pedido foi concedido. Daí a observação espirituosa de Cátulo depois que o réu ter sido absolvido: “Por que nos pediram a guarda? Tiveram medo de ter seu dinheiro roubado?” E, no entanto, em meio a gracejos como estes, ele ficou impune, ele que antes do julgamento era um adúltero, durante o julgamento, um gigolô e que escapou da condenação mais vilmente do que merecia.
7. Você acredita que qualquer coisa poderia ser mais vergonhosa do que esses padrões morais – quando a luxúria não pode se manter afastada nem do culto religioso, nem dos tribunais? No próprio inquérito realizado em sessão especial por ordem do Senado mais crimes foram cometidos do que investigados. A questão em debate era se alguém poderia estar seguro depois de cometer adultério, foi demonstrado que não se poderia estar seguro sem cometer adultério!
8. Toda essa negociata ocorreu na presença de Pompeu e César, de Cícero e Catão, sim, esse próprio Catão cuja presença, segundo dizia, fazia com que as pessoas se abstivessem de exigir as provocações e caprichos usuais de atrizes nuas na Florália,[4] – se você puder acreditar que os homens eram mais rigorosos em sua conduta em um carnaval do que em um tribunal! Tais coisas serão feitas no futuro, como já foram feitas no passado; e a licenciosidade das cidades às vezes diminuirá através da disciplina e do medo, nunca por si mesma.
9. Portanto, você não precisa acreditar que somos nós quem mais nos entregamos para a luxúria e menos para a lei. Pois os homens jovens de hoje vivem vidas muito mais simples do que as de uma época em que um réu se declararia não culpado de uma acusação de adultério perante os juízes, e os juízes confessariam perante o arguido. Época quando foi praticada a devassidão para garantir um veredicto, e quando Clódio, favorecido pelos próprios vícios dos quais ele era culpado, fez o papel de gigolô durante a audiência do caso. Poderíamos acreditar nisso? Aquele a quem um adultério levou a um inquérito foi absolvido por causa de muitos.
10. Todas as eras produzirão homens como Clódio, mas nem todas as eras, homens como Catão. Degeneramos facilmente porque não nos falta mentores nem associados em nossa maldade, e a perversidade continua por si mesma, mesmo sem mentores ou associados. O caminho para o vício não é apenas morro abaixo, mas em declive acentuado. Muitos homens são tornados incorrigíveis pelo fato de que enquanto que em todos os erros no artesanato trazem vergonha aos bons artesãos e causam vergonha para aqueles que se desviaram, os erros da vida são uma fonte positiva de prazer.
11. O piloto não está contente quando seu navio emborca; o médico não está contente quando enterra seu paciente; o advogado não está contente quando o réu perde um caso por sua culpa; mas, por outro lado, cada homem goza de seus próprios crimes. A. se deleita em uma intriga, pois era a dificuldade que o atraía a ela. B. Delicia-se em falsificação e roubo e só está descontente com o pecado quando seu pecado não atinge o alvo. E tudo isso é o resultado de hábitos pervertidos.
12. Por outro lado, no entanto, para que você possa saber que há uma ideia de boa conduta presente subconscientemente em almas que foram conduzidas até mesmo nas formas mais depravadas e que os homens não são ignorantes do que o mal é, mas indiferentes, eu digo que todos os homens escondem seus pecados e mesmo que o caso seja bem-sucedido aproveita os resultados enquanto esconde os próprios pecados. Uma boa consciência, no entanto, deseja sair e ser vista pelos homens, já a maldade teme a própria sombra.
13. Por isso, considero Epicuro o mais adequado: “Um criminoso pode ter a sorte de conservar-se oculto, mas não pode estar seguro de assim permanecer”,[5] ou, se você acha que o significado pode ser mais claro desta forma: “A razão pela qual não é nenhuma vantagem para os transgressores permanecerem ocultos é que, embora tenham a fortuna, eles não têm a certeza de permanecer em segurança”. É o que quero dizer: os crimes podem ser bem guardados, estar livre da ansiedade, não é possível.
14. Esta visão, eu mantenho, não está em desacordo com os princípios da nossa escola, se assim for explicado. E porque? Porque a primeira e a pior penalidade do pecador é ter cometido o pecado. E o crime, embora a Fortuna se divirta com seus favores, embora ela o proteja e o tome sob sua guarda, nunca pode ficar impune, uma vez que a punição do crime reside no próprio crime. Mas, no entanto, essas segundas penalidades seguem de perto as primeiras: medo constante, terror constante e desconfiança na própria segurança. Por que, então, eu deveria colocar a perversidade livre de tal punição? Porque não hei-de deixá-la sempre em suspenso?
15. Deixe-nos discordar de Epicuro em um único ponto, quando ele declara que não existe uma justiça natural e que o crime deve ser evitado porque não se pode escapar do medo que resulta dele; deixe-nos concordar com ele do outro ponto, que as más ações são açoitadas pelo chicote da consciência e essa consciência é torturada em maior grau porque a ansiedade interminável a impulsiona e chicoteia, e não pode confiar nos fiadores de sua própria paz mental. Por isso, Epicuro é a própria prova de que somos, por natureza, relutantes em cometer crimes, porque mesmo em circunstâncias de segurança, não há quem não sinta medo.
16. Boa fortuna libera muitos homens do castigo, mas nenhum homem do medo. E por que seria assim, se não fosse enraizado em nós uma aversão por aquilo que a natureza condenou? Daí mesmo os homens que escondem seus pecados nunca podem contar com o fato de ficarem ocultos; pois suas consciências os convencem e revelam os crimes a si mesmo. Mas é propriedade da culpa ter medo. Ela nos faz doentes devido aos muitos crimes que escapam à vingança da lei e às punições prescritas para que as graves ofensas contra a natureza sejam pagas em dinheiro vivo e porque, em lugar de sofrer a punição, sofremos com o medo.
Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.
[1] NT: Públio Clódio Pulcro (Publius Clodius Pulcher), mais conhecido apenas como Clódio, foi um político da República Romana conhecido por suas táticas populistas.
[2] NT: Os ritos de Bona Dea (“Boa Deusa”) eram realizados em dezembro na casa de um importante magistrados de Roma. Em 62 a.C., a cerimônia seria realizada na residência oficial de Júlio César, o pontífice máximo, em Régia. As anfitriãs foram sua esposa, Pompeia, e sua mãe, Aurélia, com a supervisão das virgens vestais. Este era um culto do qual os homens não tinham permissão para falar ou mesmo de saber o nome da deusa, que era chamada de “Boa Deusa”. Clódio se intrometeu nos ritos disfarçado de mulher, supostamente com o objetivo de seduzir Pompeia, mas foi descoberto. O crime de Clódio era, portanto, duplamente grave: adultério e violação religiosa
[3] Ver Cícero, Cartas a Ático.
[4] A Floralia era um festival romano, em honra à deusa Flora, ocorrido no mês de maio e ligado ao ciclo agrário com objetivo de consagrar as florações da primavera. Haviam representações teatrais, solturas de animais associados à fertilidade e divertimentos realizados no Circo Máximo.
[5] Ver Epicuro, Cartas e Princípios.