O livro IX das Meditações de Marco Aurélio começa com uma passagem interessante:
“Aquele que age injustamente age sem piedade. Porque, uma vez que a natureza universal fez animais racionais uns para os outros, para ajudar uns aos outros de acordo com seus desígnios, e de modo algum para ferir uns aos outros, aquele que transgride sua vontade é claramente culpado de impiedade para com a mais alta divindade”(IX,1).
O termo “divindade” pode ser interpretado, como Deus ou natureza, o que para os estoicos é o mesmo. Marco Aurélio está dizendo algo notavelmente moderno: a natureza nos fez seres sociais racionais, então agir de forma antissocial ou irracional é literalmente ir contra a natureza (humana).
O imperador nos diz por que é irracional – de acordo com a visão estoica das coisas – fazer o mal:
” Aquele que faz o mal faz o mal contra si mesmo. Aquele que age injustamente age injustamente contra si mesmo, porque se torna mau”(IX,4).
Mas e se os outros fizerem o mal? Recebemos a resposta:
” Se puder, retifique, ensinando aos que fazem o mal; mas se não puder, lembre-se de que a indulgência é dada a você para este propósito”(IX,11).
Também não há motivo para se surpreender com o mal dos outros, no fundo a culpa é sempre sua:
” E que mal se faz ou que há de estranho, se o homem que não foi instruído faz os atos de um homem sem instrução? Reflita se não deveria antes culpar-se a si mesmo… Mas acima de tudo, quando você culpa um homem como infiel ou ingrato, vire-se para si mesmo. Pois a culpa é manifestamente sua, se você confiava que um homem que tivesse tal disposição manteria sua promessa.” (IX,42).
Assim como nos Livros VI e VII, encontramos afirmações recorrentes de Marco Aurélio sobre o “agnosticismo“:
“Numa palavra, se há um Deus, tudo está bem; e se o acaso governa, você tampouco deve ser governado por ele”(IX,28)
Fica claro nas meditações que Marco Aurélio acreditava em Deus, contudo, esta e muitas outras citações das Meditações atestam que os estoicos não pensavam que acreditar em Deus ou providência era essencial para chegar à sua concepção de ética:
“Ou tudo procede de uma só fonte inteligente e se ajunta como num só corpo, e a parte não deve achar culpa do que se faz para o bem do todo; ou só há átomos, e nada mais do que mistura e dispersão. Por que, então, está perturbado?” (IX,39)
Neste livro Marco Aurélio cita Epicuro, Cícero e a Odisséia de Homero.
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Livros citados: