Pensamento de Epicteto, para o pós eleição:
As coisas não inquietam os homens, mas as opiniões sobre as coisas.[1] Por exemplo: a morte nada tem de terrível ou também a Sócrates teria se afigurado assim, mas é terrível a opinião sobre a morte, segundo a qual ela é terrível.[2] Então, quando formos obstacularizados ou nos inquietarmos ou nos afligirmos, jamais consideremos outra coisa a causa senão nós mesmos, isto é, nossas próprias opiniões. É ação do ignorante acusar os outros pelas coisas que ele mesmo faz erradamente. É do que começou a se educar acusar-se. É do homem educado não acusar os outros nem se acusar.
[1] A denúncia dos enganos da opinião que se apoia no ouvir dizer sem reflexão é comum a todo o Socratismo. Tal denúncia é acompanhada pela afirmação do caráter terapêutico da crítica à opinião, que se traduz pela eliminação dos sofrimentos e dos medos que têm sua origem na ignorância. Encontramos expressão formidável disso, por exemplo, em Lucrécio:
Pois assim como as crianças têm medo de tudo no escuro, assim nós, em plena luz, tememos coisas que não são mais de temer que aquelas que nas trevas apavoram as imaginações infantis. Esses terrores do espírito, essas trevas da alma não os podem espantar os raios de sol ou a claridade do dia, mas tão somente a luz da razão e o estudo da natureza. (De Rerum Natura, II, v, 1 a 60)
Marco Aurélio (XI, 23), citando Sócrates, nos diz que este “chamava as crenças populares de monstros que assustam as crianças”.
[2] Um tema central do Estoicismo é a reflexão sobre a morte. Tal reflexão tem como objetivos: (1) tornar-nos cientes de nosso caráter efêmero, para que vivamos mais intensamente e não deixemos as coisas importantes para depois, um depois que pode não haver (Cf. LI); (2) mostrar que a morte não é um mal e que não nos é preciso temê-la. Há todo um tesouro de reflexões sobre esse tema no pensamento dos socráticos ao qual remetemos o leitor. Contentar-me-ei aqui em citar Sócrates, que, segundo Platão (Apologia de Sócrates), teria dito em sua defesa não temer a morte, pois ou ela é o termo da vida após o qual não há nem bem nem mal (não sendo, assim, preciso temê-la) ou, após a morte, por ter vivido de modo digno, ele iria para um lugar no qual encontraria as almas de outros homens dignos (não sendo, de novo, preciso temê-la).
Tradução de Aldo Dinucci, também disponível em audio.
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