Jean Tosetto, em parceria com a Suno Research, lançou esta semana o livro Estoicismo aplicado aos investimentos no qual defende que a ataraxia, estado mental emulado pelos estoicos, beneficia investidores cientes de que a prosperidade vai além do progresso material, lhes provendo maior controle sobre as emoções para lidar com os riscos inerentes da renda variável.
O livro, na verdade um longo artigo, é muito bem escrito e trata um assunto importante sem cair na falha, tão comum atualmente, de confundir o estoicismo como uma “auto ajuda para ficar rico rápido”. Aborda as razões para estudar as finanças e os estoicos, a relação entre o processo de investimento e as emoções e os benefícios do estoicismo para os investidores, sem nunca descuidar do principal ponto, que o dinheiro não é um fim em si mesmo, mas uma ferramenta que pode ser útil para o desenvolvimento pessoal e para se entregar algo de bom para a sociedade.
Trechos:
- Numa sociedade que cada vez mais estabelece estereótipos para os indivíduos, ao invés de tentar compreender suas idiossincrasias, é comum retratarem estudantes de filosofia como avessos aos assuntos financeiros, ao passo que entusiastas dos investimentos são vistos como pessoas egocêntricas, sem interesse por assuntos fora da esfera monetária – o que é um erro conceitual.
- Podemos não concordar com alguns aspectos desumanizantes do capitalismo, mas devemos tomar ações para nos proteger das consequências que atingem quem ignora as regras do dinheiro, do qual muitas pessoas são escravas e não donas provisórias. Como poucas coisas no mundo estão mais associadas às emoções do que o dinheiro, estudar filosofia estoica para adquirir autoconhecimento e para controlar minimamente as emoções, se mostra uma atitude bastante sensata.
- Adotar um comportamento estoico visando apenas o enriquecimento monetário seria um autoengano emocionalmente custoso quando a essência do indivíduo se sobressaísse. Ao contrário, é a prática dos investimentos que pode servir de apoio para um sujeito se desenvolver pessoalmente, através do autoconhecimento patrocinado por uma condição financeira estável e livre das dívidas que escravizam as pessoas.
- Um estudante de filosofia estoica não deve ser avesso ao capitalismo, mas transitar por ele de modo a extrair de seus mecanismos de criação de riqueza a manifestação de algo bom para a sociedade de sua época.
O pensamento de Jean está em linha com os grandes mestres do estoicismo. Sêneca no livro “A Vida Feliz“ aborda a relação do dinheiro e virtude:
“Ninguém condenou a sabedoria à pobreza. O filósofo pode possuir ampla riqueza, mas não possuirá riqueza que tenha sido arrancada de outro, ou que esteja manchada com o sangue de outra pessoa: ela deve ser obtida sem prejudicar qualquer homem e sem que ela seja obtida por meios vis; deve ser honrosamente acessível e honrosamente gasta.” (XXIII,1)
“Se as minhas riquezas me deixarem, não levarão consigo nada além de si mesmas: já vocês ficarão desnorteadas e parecerão ficar fora de si se as perderem: comigo as riquezas ocupam um certo lugar, mas com você elas ocupam lugar mais alto de todos. Em suma, minhas riquezas pertencem a mim, você pertence às suas riquezas.” (XXII, 5)
O Autor palestrou sobre o tema na Stoicon X-Aracaju, evento de filosofia organizado pelo GT Epicteto e pelo grupo Viva Vox, sob a supervisão do Professor Doutor Aldo Dinucci, da Universidade Federal de Sergipe.
Livro disponível na Amazon: