Chegamos ao fim das Meditações de Marco Aurélio, semana que vem retornamos com as cartas de Sêneca. No início do capítulo, Marco Aurélio lembra o que é verdadeiramente importante:
“se você tiver medo não porque você deve deixar de viver algum tempo, mas se você temer nunca ter começado a viver de acordo com a natureza – então você será um homem digno do universo que o produziu, e deixará de ser um estranho em sua terra natal, e não se perguntará sobre as coisas que acontecem diariamente como se fossem algo inesperado, nem será dependente disso ou daquilo” (XII,1)
No parágrafo 3 temos uma frase que pode ter inspirado o “penso, logo existo” de Descartes:
“Três são as coisas de que você é composto: um corpo pequeno, um pouco de vida e inteligência. Destes, os dois primeiros são seus, na medida em que é seu dever cuidar deles; mas o terceiro, só o terceiro, é propriamente seu.”(XII,3)
Em seguida duas frases fantásticas sobre a obsessão equivocada das pessoas com o que os outros pensam delas:
“cada um ama a si mesmo mais do que todos os outros homens, mas, no entanto, valoriza menos a sua própria opinião de si mesmo do que a dos outros. (…). Temos muito mais respeito pelo que os nossos vizinhos pensam de nós do que pelo que pensamos de nós mesmos.”(XII,4)
O ponto, deve ser claro, não é que é bom ignorar as opiniões ou críticas dos outros, independentemente dos seus méritos, mas sim que a nossa autoestima não deve depender de algo que claramente não temos controle, e que, portanto, devemos tratar, na melhor das hipóteses, como um indiferente preferido.
Nos parágrafos 17 e 20 recebemos alguns conselhos eminentemente práticos:
“Se não é certo, não o faça: se não é verdade, não o diga”(XII,17)
“Primeiro, não faça nada irrefletidamente, nem sem um propósito. Em segundo lugar, faça com que os seus atos se refiram apenas a um fim social.” (XII,20)
A primeira parte destaca o compromisso estoico com a vida ética, que inclui um dever para com a verdade, enquanto a segunda nos lembra a necessidade de estarmos atentos ao que fazemos e porquê, e que o que fazemos deve ser em benefício da humanidade.
Perto do final do livro Marco Aurélio afirma:
“Quão pequena parte do tempo ilimitado e insondável é destinada a cada homem, pois logo é engolido no eterno! E quão pequena uma parte de toda a substância, e quão pequena uma parte da alma universal, e sobre que pequeno torrão de toda a terra você se arrasta! Refletindo sobre tudo isso, nada considere grande, a não ser agir como a sua natureza o conduz e suportar o que a natureza comum traz”(XII,32)
Que forma maravilhosa de concluir os comentários às Meditações! Recomendo que leiam calmamente a obra, analisando cada passagem, são ensinamentos do rei-filósofo.
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